Segundo especialista em comércio exterior, negócios entre os dois países não têm volume, mas Brasil pode levar a pior por ter a Indonésia como porta de entrada para o mercado asiático
Na perspectiva econômica, Brasil e Indonésia têm relações inicipentes: na balança comercial brasileira, a Indonésia representou cerca de 1% das exportações do País em 2014, mas o intercâmbio entre os países vem crescendo.
De acordo com números do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos e da Divisão de Inteligência Comercial, em 2013, o Brasil representava 0,8% das exportações da Indonésia, posicionando-se no 22º lugar entre os compradores do País, e 1,2% das importações, ficando em 16º lugar entre os fornecedores do mercado indonésio.
As relações comerciais, no entanto, têm se fortificado nos últimos anos. A Indonésia foi o 32º parceiro comercial brasileiro, com participação de 0,75% no comércio exterior brasileiro em 2013. Entre 2009 e 2013, o intercâmbio comercial brasileiro com o país cresceu 68,6%, de US$ 2,14 bilhões para US$ 3,60 bilhões. No mesmo período, as exportações aumentaram 73,7% e as importações, 62,5%.
‘O Brasil tem alguma coordenação com a Indonésia. Os dois países aparecem como em desenvolvimento, então eles votam junto na OMC [Organização Mundial do Comércio], mas a Indonésia não é um dos países mais ativos. Além disso, o Brasil tem investimento da Vale na Indonésia, que não é o mais importante da mineradora, e a Indonésia tem investimentos no Brasil na área de tabaco e na compra de armas’, explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados.
Na última semana, a Embraer fechou o primeiro acordo de aeronaves na Indonésia e vai fornecer seus primeiros jatos para uma companhia aérea indonésia, a Kalstar Aviation. Em 2012, a Força Aérea da Indonésia adquiriu 16 aeronaves A-29 Super Tucano e um simulador de voo da fabricante brasileira.
‘Esse é um mercado importante para o Brasil. Somos exportadores de commodities e, nesse mercado, você exporta, importa, e o dinheiro não fica aqui. Mas o setor de aviação tem valor agregado, o dinheiro fica no País’, afirma José Carlos Magalhães Teixeira, advogado especialista em comércio exterior, sócio do Magalhães Teixeira Advogados.
Em 2014, segundo o Ministério do Desenvolvimento, os principais produtos brasileiros exportados para a Indonésia foram bagaços e outros resíduos sólidos da extração do óleo de soja, algodão debulhado e milho em grão. Já os importados do mercado indonésio foram óleos de plamiste, de dendê, e borracha natural.
Segundo Teixeira, a Indonésia é uma porta de entrada para o mercado asiático. ‘Hoje o comércio entre os dois países podem não representar muito, mas eles estão próximos da Ásia e já são importadores dos nossos produtos. Já havia uma iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) de ampliar as negociações’, diz.
O advogado também afirma que, por terem economias similares, os dois países buscar complementaridade. ‘A Indonésia pode não ser um parceiro direto para a exportação, mas os dois países podem trabalhar conjuntamente no desenvolvimento de outros produtos, como café, biocombusível e etanol, por exemplo.’
Para Barral, o ponto central do mercado asiático ainda é Cingapura, mas a Indonésia é um mercado em potencial. ‘É um país de 200 milhões de habitantes, com um mercado em expansão que, evidentemente, tem interesse no Braisl em diversas áreas’, diz.
Texeira diz que é preciso esperar para ver qual será a reação da Indonésia às críticas brasileiras. ‘Nós sabemos que rusgas diplómáticas podem ter reflexos econômicos, inclusive embargos, como é o caso de Cuba e Estados Unidos. Tudo depende de como a Indonésia vai receber as críticas brasileiras’, diz Teixeira.
Barral afirma, no entanto, que a esfera política e diplomática não deve extrapolar a barreira econômica. ‘A indústria brasileira tenta não contaminar um tema com outro. Esse caso não é como o caso da disputa pela guarda do menino Sean, que levou a um conflito diplomático entre Brasil e Estados Unidos’, afirma.
Em outubro do ano passado, o Brasil recorreu à OMC para que a entidade julgasse as barreiras impostas pela Indonésia contra o frango nacional. O País estabeleceu normas mais críticas no método do abate halal – que segue preceitos islâmicos – do que as regras do código internacional de padrão dos alimentos e não aceita os certificados sanitários brasileiros.
‘Há uma disputa contra a Indonésia em relação à exportação de carne, mas os caso são discutidos na esfera técnica. Não deve haver reflexo nenhum’, diz Barral.
O consultor acredita que, depois do fuzilamento do brasileiro, deve haver uma articulação entre o Brasil e outros países que criticaram a posição indonésia. ‘Provavelmente, uma reação coletiva tenha mais efeitos nas esferas diplomáticas e politicas no futuro.’