Os preços de exportação subiram com força no primeiro trimestre, registrando alta de 22,4% em relação ao mesmo período de 2016, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). O movimento reflete especialmente o aumento das cotações de commodities, e explica quase todo o salto de 24,4% no valor das vendas externas de janeiro a março, para US$ 50,5 bilhões. O superávit comercial ficou em USS 14,4 bilhões no período.
Os termos de troca (a relação entre preços de exportação e de importação) tiveram um aumento de quase 20% no primeiro trimestre, uma vez que as cotações de importação subiram apenas 2,3%. Essa trajetória dos termos de troca implica ganhos importantes de renda para o país. Os preços dos produtos básicos deram um salto de 37,6% no primeiro trimestre, principalmente devido à disparada das cotações do petróleo e do minério de ferro, como diz o economista André Mitidieri, da Funcex.
De janeiro a março, os preços de exportação do setor de extração de petróleo e gás natural cresceram 80,5%, enquanto os de extração de minerais metálicos, onde se encontra o minério de ferro, subiram 114% em relação ao mesmo período do ano passado. As perspectivas mais favoráveis para o crescimento global, com aceleração sincronizada das economias avançadas e emergentes, têm impulsionado os preços desses produtos.
Para o economista Fernando Ribeiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), porém, a «intensidade da recuperação dos preços de exportação» se deve em grande à «intensidade da queda» das cotações ocorrida entre agosto de 2011 e março do ano passado. Foi quando murcharam as commodities. As cotações das vendas externas caíram quase 44% nesse intervalo, havendo dois momentos bastante distintos nesse declínio, diz Ribeiro.
Ele lembra que, depois de atingirem o pico histórico em agosto de 2011, os preços das exportações do país começaram a cair de modo gradual. Até agosto de 2014, houve uma queda de 15,6%. Depois de uma fase de bom crescimento, registrado especialmente em 2010, na esteira da retomada da crise financeira global, o mundo voltou a enfrentar problemas, evidenciados no agravamento da crise na zona do euro.
De agosto de 2014 ao primeiro trimestre de 2016, porém, o recuo foi abrupto, num período de desaceleração mais forte do comércio global. Os preços do petróleo e do minério de ferro despencaram, levando as cotações das vendas externas brasileiras a cair 33% entre agosto de 2014 e março de 2016.
Nesse cenário, a retomada dos preços de exportação ocorrida no primeiro trimestre foi em grande parte uma reação ao tombo ocorrido nos anos anteriores, avalia Ribeiro. Com a melhora das perspectivas para a economia global e os sinais de recuperação do comércio global, as cotações das exportações deram um salto, mas ainda estão bastante abaixo dos níveis elevadíssimos do terceiro trimestre de 2011, e mesmo dos observados em 2013 e 2014, por exemplo. Os preços das vendas externas em março ainda estavam 17% abaixo daqueles alcançados em agosto de 2014, afirma Ribeiro.
Para ele, as cotações de exportação do Brasil tendem a seguir nos níveis atuais, oscilando em torno dos valores registrados no fim do primeiro trimestre. O desempenho da economia global melhorou, mas não a ponto de sustentar aumentos seguidos das cotações nos próximos meses, avalia o economista do Ipea.
O volume exportado, por sua vez, subiu bem menos dos que os preços, tendo avançado apenas 1,3% de janeiro a março. O mundo de fato começou a crescer a um ritmo mais forte, mas a demanda externa ainda não é das mais expressivas, e os produtos brasileiros manufaturados enfrentam problemas de competitividade para ganhar mercados, como diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior.
Uma das reações mais fortes da quantidades exportadas aparece nos bens duráveis, cujas vendas aumentaram 36% no período. Um dos destaques é o setor de veículos, que elevou as vendas especialmente na América Latina, segundo Barral. O volume exportado no setor de veículos automotores, reboques e carrocerias cresceu 30% no primeiro trimestre. No setor de petróleo e gás natural, os volumes vendidos para o exterior também tiveram alta expressiva, de 56%. As quantidades exportadas de bens intermediários (insumos e matérias-primas), porém, caíram 4,1%.
Para os analistas, o aumento das exportações neste ano deve continuar a ser puxada pela alta de preços, ainda que os volumes possam melhorar um pouco, como diz Mitidieri. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que o comércio global de bens e serviços cresça 3,8% neste ano, um número consideravelmente mais alto que os 2,2% registrados em 2016. No entanto, é bem menos que a média de 6% ao ano observada entre 1960 e 2007, por exemplo.
Ribeiro também acredita que os volumes exportados devem aumentar um pouco ao longo do ano, lembrando que, com a safra recorde, as vendas de produtos agrícolas tendem avançar mais nos próximos meses. A expansão do saldo comercial, contudo, deverá ser garantida basicamente pela alta de preços, diz ele. Os analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) projetam um superávit de US$ 52 bilhões neste ano, 9% acima dos US$ 47,7 bilhões de 2016.