O saldo da balança comercial brasileira registrou o maior déficit nos três primeiros meses deste ano desde o início da sua série histórica, em 1994. O déficit comercial (importações maiores que exportações) resultou em US$ 6,07 bilhões para os três primeiros meses de 2014. Nos números apresentados no acumulado do primeiro trimestre deste ano, as importações somaram US$ 55,66 bilhões – com média diária de US$ 912 milhões -, enquanto as exportações somaram US$ 44,58 bilhões – uma queda de 4,1% na comparação com o mesmo período de 2013, com média diária de US$ 812 milhões.
Considerando-se apenas o mês de março, ainda que superavitária em US$ 112 milhões, trata-se do pior resultado da balança comercial brasileira para meses de março desde 2001, quando se registrou um déficit comercial de US$ 276 milhões. O resultado deficitário era esperado e reflete a conjuntura econômica do Brasil dos últimos anos. Com efeito, algumas das causas para este desempenho são as reduções dos preços das commodities em geral e a crescente importação de petróleo e derivados.
O resultado reflete também falta de competitividade da nossa economia, de alto custo, e que viveu um período de tranquilidade entre 2004 até 2011 com a alta dos preços das commodities e a grande entrada de capital durante este intervalo, que financiaram um enorme aumento da demanda interna. Como enfatizou Edmar Bacha em seu artigo no último número da ‘Revista Brasileira de Comércio Exterior’ (janeiro/março de 2014), a bonança, de quase 10% do PIB, ‘foi gerada por uma explosão dos preços das commodities que exportamos e por um extraordinário influxo de capitais estrangeiros’.
Em defesa dos números da balança no primeiro trimestre, vale destacar que o Brasil ainda não começou a exportar e contabilizar a safra agrícola 2013/2014, o que só deve acontecer a partir do mês de abril e deve, assim, melhorar o desempenho das exportações. Também um viés positivo para a balança é que, paralelamente às preocupações com a baixa competitividade das exportações que tem sido ressaltada na produção do déficit comercial da balança, prevê-se a possibilidade de uma retração crescente das importações, já que o ritmo do consumo doméstico está diminuindo desde 2013 e o novo patamar cambial deve reduzir o ingresso de alguns produtos. Notadamente, o ritmo do consumo doméstico já recuou a 3,5% no ano passado.
Contudo, se a balança comercial brasileira apresentar superávit em 2014, este será pequeno, provavelmente inferior a US$ 2 bilhões. Os preços das commodities em geral não só pararam de crescer, como há tendência de queda progressiva. Pelo cenário que se desenha para 2014, será difícil o País conseguir um saldo mais robusto.
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