Por Rodrigo Pedroso | Valor
SÃO PAULO – Parte do empresariado brasileiro mudou de posição no último ano e está disposto a abrir mais o mercado interno a insumos e produtos estrangeiros, de acordo com Ken Ash, diretor para Comércio Exterior e Agricultura da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Presente hoje em seminário sobre o tema organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ash disse que há um ano seria “inimaginável” visitar ao Brasil a pedido da indústria para falar sobre as vantagens de o país ter maior inserção no comércio internacional.
A impressão do diretor é que os industriais mudaram de posição em relação àquela adotada nos últimos anos, de proteção de setores mais frágeis à competição com importados, mesmo com o encarecimento de custos e preços mais altos nos produtos finais.
“A discussão sobre comércio exterior no Brasil passou muito tempo focada em fatores macroeconômicos e nos termos de troca. Os primeiros são muito difíceis de ser mudados apenas por uma orientação de política para comércio exterior e o segundo é algo que leva muito tempo para melhorar”, afirmou ao Valor.
Um componente ideológico contrário à abertura comercial também ajudou os empresários do país a pressionar o governo para adotar uma política mais protecionista ao longo do tempo. Mas informações recentes têm ajudado a minar essa postura. “Quando os dados são apresentados, da pouca participação do país no comércio internacional, isso não se sustenta. Os empresários viram, mais do que a situação atual, uma tendência muito ruim para a indústria no futuro se não houver uma mudança de postura, mais aberta à integração em cadeias globais.”
Na visão de Ash, a retomada das negociações em órgãos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e, principalmente, a assinatura de acordos de livre comércio entre grandes regiões, como o da Aliança do Pacífico com a Ásia e o início de negociações de um grande acordo entre Estados Unidos e União Europeia, colocaram maior importância no debate sobre como deve caminhar o comércio exterior brasileiro entre os empresários.
“Ao mesmo tempo que o Brasil ainda é muito fechado, há muitas oportunidades de inserção em cadeias de valor e aumento dos níveis de comércio exterior do país. Isso anima os empresários”, afirmou o diretor da OCDE.