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Sob Bachelet, Chile tentará aproximar blocos regionais

By 17 de diciembre de 2013No Comments
Por César Felício | De Buenos Aires
A partir do próximo ano, o Chile deve mudar o curso de sua política externa comercial e regional: o foco passa a estar nos países da América do Sul, e não do outro lado do Pacífico. A presidente eleita Michelle Bachelet tentará se aproximar do Mercosul e irá rever as negociações do país para novos acordos de abertura comercial com Estados Unidos e Ásia.
A estratégia do novo governo chileno será trabalhar para que a Unasul, bloco de caráter político que reúne todos os países da América do Sul, ganhe um aspecto econômico mais relevante. ‘Há um interesse em criar pontos de convergência entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul. Existe uma tendência de negociação em megablocos comerciais, e a América do Sul atuar como região nessas discussões deve ser uma prioridade óbvia’, disse o economista Carlos Furche, que foi vice-ministro do Comércio no primeiro mandato de Bachelet (2006-10). Ele ajudou a elaborar o capítulo de política externa do plano de governo da líder socialista.
Segundo Furche, a estratégia chilena de ancorar sua política externa em acordos de livre comércio se esgotou. ‘Já estamos com 95% de nossa pauta de exportação desgravada de tarifas. Temos 22 tratados de abertura que envolvem 60 países. Dos mais relevantes, faltam apenas Rússia, África do Sul e Indonésia. Este é um ciclo que se fechou’, disse.
Para Furche, que ressaltou não falar em nome de Bachelet, nas negociações multilaterais o Chile deve buscar vantagem em áreas como conectividade, rotas aéreas, integração energética e de investimentos. ‘Temos um déficit comercial importante com o Mercosul, mas não devemos ter a balança como o principal tema neste momento.’ O Brasil exportou para o Chile US$ 4,2 bilhões nos dez primeiros meses de 2013, ou 12% a mais do que importou. Já a Argentina vendeu no período US$ 3,6 bilhões para o Chile, quatro vezes mais do que compra.
As presidentes brasileira, Dilma Rousseff, e argentina, Cristina Kirchner, foram as primeiras a cumprimentar Bachelet após a vitória da chilena anteontem. Dilma externou pelo ‘Twitter’ a satisfação com o resultado. ‘Brasil e Chile têm muito a cooperar e construir juntos. Temos uma compreensão clara do papel da integração da América do Sul’, foi a mensagem colocada na conta pessoal da presidente. Também colocaram mensagens para Bachelet no ‘Twitter’ outros oito chefes de Estado.
No governo do atual presidente Sebastián Piñera, o Chile entrou nas negociações para o estabelecimento da Parceria Trans-Pacífico (TPP, em inglês), um acordo de abertura entre Estados Unidos, Canadá, México, Peru, Japão, Austrália e outros cinco países da Ásia. O acordo libera não apenas o comércio, mas o fluxo de investimentos entre os países. Cria limites para a atuação de empresas estatais e aumenta o nível de proteção para a propriedade intelectual e patentes.
‘Tudo o que está sendo discutido neste âmbito será reavaliado cuidadosamente’, disse Furche, para quem ‘a relação custo-benefício é ruim para o Chile e, em termos políticos, seus ganhos também são duvidosos’.
O Chile aposta nas divergências entre os Estados Unidos e o Japão para que as negociações atrasem e o país possa ganhar tempo. Isso porque a retirada do país das negociações, segundo Furche, poderá afetar a relação bilateral com os Estados Unidos. ‘Esta não é uma opção fácil.’
Os EUA são hoje o segundo mercado de exportações do Chile, logo após a China, mas 93% das compras chinesas são concentradas em cobre, que representa 60% da pauta global de exportações chilenas. Já as exportações do Chile para os Estados Unidos são mais diversificadas. Em 2013, o Chile exportou US$ 8,4 bilhões para os Estados Unidos, de janeiro a outubro, e US$ 15,7 bilhões para a China.
Nas importações chilenas, a situação se inverte: o Chile comprou US$ 12,8 bilhões em importações dos Estados Unidos e US$ 10,5 bilhões da China. ‘Nossas importações dos Estados Unidos são ligadas a investimentos, concentradas em bens de capital, e não em bens de consumo’, disse Furche.

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