A reação morna dos mercados traduz bem o sentimento com a votação da segunda denúncia contra Michel Temer. Ela foi barrada, mas o resultado foi mais “magro”, com 251 votos a favor e 233 votos contra, ante 263 votos a favor na primeira denúncia, de agosto.
Assim, a grande questão do mercado ficou para o placar, considerando levemente negativo, mas ainda dentro do esperado, e o quanto isso reflete nas reformas econômicas. Conforme apontado na véspera, um placar abaixo de 240 votos seria considerado muito ruim – e ele não aconteceu. Porém, não houve os 260 votos, considerados um piso para o discurso da reforma da previdência ganhar mais força (mesmo que uma reforma ainda muito enxuta).
Segundo o Goldman Sachs, a pequena erosão do suporte político reduz, mas não elimina, a probabilidade de uma aprovação da reforma da Previdência. Ainda mais, deve-se levar em conta que muitos que votaram contra Temer já se mostraram favoráveis à reforma (principalmente do PSDB).
Porém, conforme destacam analistas políticos, para conseguir aprovar essa reforma, ele precisará contar com um antigo aliado, mas que vem mostrando indisposição com o governo ultimamente: o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Isso porque a votação mais fraca evidenciou o enfraquecimento do governo em sua relação com o Congresso, aumentando a força política do presidente da Câmara. Ambos disputam o protagonismo da agenda econômica e, para conseguirem fazer as reformas, precisam se entender. Conforme aponta a LCA Consultores, a pauta governista terá que ser construída junto com Maia, numa espécie de “congressualismo de coalizão”.
Porém, além de Maia, há outras dificuldades no radar, avalia a Barral M Jorge. Conforme aponta a consultoria, a reforma continua a ser um assunto profundamente impopular e, à medida que as eleições de 2018 se aproximam, os parlamentares estarão menos propensos a defender essa proposta sem negociar ainda mais benefícios para si próprios, seus partidos e sua base eleitoral.
E, além de se concentrar nas negociações necessárias para a aprovação da reforma, Temer se encontrará em crescente pressão para apresentar medidas de interesse dos deputados que ajudaram a salvar seu mandato. “Ainda, para garantir o apoio de partidos do chamado centrão, o Palácio do Planalto deve reequilibrar as representações dos partidos na estrutura ministerial e fazer mudanças nos cargos de primeiro e segundo escalão”, avalia a Barral M Jorge.
De qualquer forma, Temer está mais disposto a negociar uma versão mais flexível da reforma. Assim, “a responsabilidade de aprovar uma reforma previdenciária ainda mais abrangente será transferida para o vencedor das próximas eleições presidências”, avalia a Barral M Jorge. Ou seja, a definição do próximo presidente será essencial para saber se as reformas continuam – o que deve aumentar ainda mais a volatilidade do mercado.