O aumento da importação de automóveis e peças fez o déficit
comercial do Brasil com o México aumentar 130% de janeiro a outubro em
relação ao mesmo período de 2011. O saldo negativo entre as exportações
e importações feitas pelo Brasil chegou a US$ 1,78 bilhão. Segundo
analistas, a proteção brasileira para diminuir a penetração de produtos
mexicanos, como a adoção de cotas de importação a automóveis, não vai
ser suficiente para reverter essa dinâmica no comércio bilateral em
2013.
O resultado deste ano é explicado pela forte entrada de carros,
ônibus e caminhões ‘hecho en Mexico’. Se entre janeiro e outubro de
2011 as importações do setor haviam somado US$ 1,6 bilhão, neste ano
saltaram para US$ 2,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Não fosse essa
alta, o déficit da balança comercial total brasileira com o México
cresceria bem menos: 13%.
Também com peso na balança, produtos químicos e máquinas e aparelhos
elétricos e mecânicos, contudo, não tiveram aumento substancial em
relação a 2011. O Brasil comprou US$ 1,25 bilhão desses três setores
neste ano -até outubro, o total de importações com origem no México
chegou a US$ 5,1 bilhões, e as exportações para os mexicanos
permaneceram estagnadas em US$ 3,3 bilhões.
Em novembro, a cota de US$ 1,45 bilhão para a importação de
automóveis com base em acordo de livre comércio entre os dois países
foi atingida. Esse teto, estabelecido após negociação entre os dois
governos, é válido para o período entre março deste ano e março de 2013.
Daqui para frente, os automóveis mexicanos vão ter que pagar 35% de
tarifa de importação e mais dez pontos percentuais no Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) para entrar no mercado brasileiro.
Para Luis de la Calle, ex-vice ministro de Negociações Comerciais
Internacionais do México, a adoção de cotas atrapalha as exportações
brasileiras. Como a produção nacional é direcionada ao abastecimento de
um mercado interno protegido, sobra pouco fôlego para as empresas
voltarem as atenções ao exterior. ‘As restrições fecham o mercado, o que
acaba incentivando as montadoras a fazer planos para atender apenas o
consumo doméstico’, diz.
Por outro lado, a indústria automobilística nacional não conseguiu
neste ano aumentar sua presença no México. As exportações de veículos e
peças brasileiros em direção ao mercado mexicano encolheram US$ 100
milhões em relação aos dez primeiro meses do ano passado e ficaram
ainda mais distantes do resultado total de 2011 -US$ 880 milhões.
Se não vendeu mais veículos, o Brasil também não teve bom desempenho
no principal setor de sua pauta de exportação: a venda de máquinas e
aparelhos mecânicos ficou estagnada, em US$ 878 milhões. O único salto
aconteceu na venda de aviões, que pulou de US$ 100 milhões para US$ 271
milhões.
De acordo com Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior,
diferenças estruturais entre as duas economias explicam o resultado
deste ano, que mostra mais produtos mexicanos atrativos ao mercado
brasileiro do que o contrário. ‘Não há solução de curto prazo para essa
assimetria. Independentemente dos acordos automotivos, o grande fator é
a competitividade de preços. O Brasil não consegue se inserir no
mercado mexicano por múltiplos fatores, que vão desde o preço da
energia ao custo de produção de um produto’, afirmou.
A diferença entre os parques produtores citados por Barral explica a
inversão do comércio de veículos e partes nos últimos anos. Em 2007,
quando o Brasil registrou superávit total de US$ 2,3 bilhões com o
México, as importações do setor automotivo foram de US$ 600 milhões.
Com exceção de 2009, que ficou no mesmo patamar do ano anterior, as
compras não pararam de crescer desde então. Já as exportações
brasileiras de veículos percorreram caminho oposto e encolheram quase
pela metade. Há cinco anos elas foram de US$ 1,6 bilhão.
Fabio Silveira, economista da RC Consultores, acredita que o déficit
com os mexicanos vai aumentar em 2013. Segundo ele, dois fatores podem
impedir que a relação comercial mude de tendência no curto prazo: a
perspectiva de estagnação das exportações brasileiras e o aumento do
consumo doméstico, que deve fomentar as compras externas.
‘Temos dificuldade para exportar bens mais industrializados em
função de problemas estruturais e da falta de competitividade da cadeia
produtiva, que não será compensada pela desvalorização cambial. E o
mercado mexicano também não vai comprar mais do Brasil. Por outro lado,
a demanda interna está crescendo e é o que vai puxar a recuperação da
economia do ano que vem’, afirma.
De la Calle também não acredita em reversão de tendência. Para ele, o
México vai esgotar rapidamente a cota do ano que vem e seguirá com
superávit, pois a economia brasileira não vai ter fôlego para exportar.
‘Isso tudo também é irônico. O Brasil caminha para se tornar uma das
maiores economias do mundo e, para isso acontecer, terá que permitir a
abertura do mercado para conseguir exportar mais’, afirma.
Autor(es): Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo