Por Gustavo Brigatto | De Las Vegas
Os Estados Unidos já não são mais o maior mercado global para produtos eletrônicos. Em 2013, o país perdeu o posto para o bloco de emergentes da Ásia, que inclui países como a China e a Índia. Do total de US$ 1,07 trilhão de gastos no ano, o bloco respondeu por US$ 282 bilhões, ou 26%, o que significa um crescimento de 14% na comparação com 2012. Já os Estados Unidos viram sua parcela crescer apenas 3%, para US$ 257 bilhões.
A maior parte do crescimento do bloco de países emergentes da Ásia veio da China. S
Segundo, Steve Koening, diretor de análise da Consumer Electronics Association (CEA), organizadora da CES, feira que reúne centenas de milhares de pessoas na cidade de Las Vegas, Estados Unidos, todos os anos, há uma mudança no perfil de consumo de tecnologia na China.
O que antes estava restrito apenas a grandes cidades, como Pequim e Xangai, onde vive 2% da população, agora também acontece em cidades de médio porte, localizadas no interior.
A China tem 160 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, enquanto os Estados Unidos têm apenas 9. Para Koening, é possível que nos próximos quatro a seis anos, o bloco de países emergentes da Ásia passe a representar um terço do mercado global de eletrônicos.
‘O consumo de eletrônicos nos EUA chegou ao pico’, disse Koening, durante evento da CES a jornalistas – a feira abre oficialmente hoje e vai até sexta-feira. ‘Os chineses começam a ter mais acesso à tecnologia, enquanto nos EUA as pessoas estão preferindo comprar um carro, um sofá, ou uma nova máquina de lavar roupa, em vez de trocar de equipamentos eletrônicos.’
De acordo com Koening, a maior parte da população chinesa tem sido atendida por fabricantes de origem local, que vêm ganhando força suficiente para iniciar uma operação global.
É o caso da fabricante de smartphones Meizu. A companhia, criada em 2003 para vender players de MP3, chegou ao mercado de celulares em 2009 e hoje já é a terceira marca chinesa em vendas de smartphones no país, atrás da Lenovo e da Huawei.
Agora, a companhia está expandindo sua atuação. Já presente na Rússia e nos Emirados Árabes, a Meizu quer chegar à América Latina e ao Leste Europeu em 2014.
Foi graças aos smartphones e também aos tablets que o mercado global de eletrônicos reverteu o desempenho fraco de 2012 e apresentou um crescimento de 3% em 2013, com receita de US$ 1,07 trilhão.
Este pode ter sido, no entanto, o último ano em que esses dispositivos móveis ‘salvaram o dia’ para os fabricantes. Depois de quatro anos liderando o desempenho do setor, o reinado dos tablets e dos smartphones pode ter chegado ao fim.
‘O preço médio dos aparelhos está caindo, o que vai fazer com que o aumento no volume nas vendas não seja capaz de compensar as quedas apuradas em outras categorias, como vinha acontecendo’, disse Koening.
De acordo com Koening, a queda nos preços dos tablets e smartphones decorre da necessidade de criar produtos mais acessíveis, principalmente para os consumidores de países emergentes. Mas não é só nas regiões em que as pessoas têm menos recursos que estes modelos têm feito sucesso.
Em mercados mais avançados, com o dos Estados Unidos, eles também têm prosperado. ‘Já se fala em substituir o ‘livro de mesa’ por um ‘tablet de mesa’ nas residências. As casas provavelmente vão ter dispositivos em diferentes cômodos, com diferentes funções’, disse.
Como resultado deste novo cenário, a expectativa da CEA é que o mercado de eletrônicos tenha um recuo de 1% em 2014, com vendas de US$ 1,05 trilhão.
Segundo Koening, outro fator que vai contribuir para o desempenho mais fraco do setor de eletrônicos neste ano é a desaceleração de algumas economias emergentes. Nos últimos anos, nações como Brasil, Índia e Rússia vinham sustentando o crescimento do setor, enquanto mercados mais desenvolvidos sofriam os efeitos da crise econômica. Mas o fraco desempenho de algumas nações – o Brasil, por exemplo, tem previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9% em 2014, contra pouco mais de 2% em 2013 – vai reduzir o protagonismo desse bloco de países. A expectativa é que as vendas avancem 2% neste ano, contra 9% em 2013.
Para países desenvolvidos, o cenário é de recuo de 4% nas vendas. Um desempenho ainda pior que a queda de 2% acumulada em 2013.
O repórter viajou a convite da Lenovo.