Os clientes do National Bank formularam diversas perguntas para esta conferência, para a qual foram convidados o Dr. Welber Barral, especialista em negócios internacionais e secretário do comércio exterior do Brasil entre 2007 e 2011, e também Pierre Pettigrew, ex ministro do Canadá entre 1996 e 2006.
Esta conferência aconteceu na sede do National Bank em Montreal, no dia 4 de fevereiro de 2014. Logo após, Dr. Barral seguiu para a segunda conferência, na Escola de Direito da Université de Montréal.
Resumo da apresentação
O Dr Barral disse durante a sua apresentação que os economistas tinham um excesso de otimismo e agora um excesso de pessimismo, e nenhuma dessas posições pode ser considerada muito válida. Há muitas oportunidades, em alguns aspectos macroeconômicos o Brasil está muito bem, mas há ainda dificuldades. Depois do Plano Real houve mais crescimento econômico, e o crescimento agora é de 2%, isso depois da crise mundial.
Nos últimos 20 anos o crescimento foi baseado no mercado interno. O país tem uma democracia estável e houve uma expansão da classe média nos últimos anos, especialmente durante o governo Lula: 40 milhões pessoas, uma população igual a do Canadá, claro que não como a classe média do Canadá.
Evidente que o cenário mundial foi favorável, o preço das commodities esteve alto, mas que estão sempre em ciclos. No curto prazo temos ameaça no Brasil, a inflação é um risco persistente, a situação fiscal também não é rigorosa como deveria ser, especialmente num ano eleitoral. O governo é em grande parte responsável pela inflação, e os altos juros afetam os investimentos no longo prazo. São os mais altos do mundo. Ainda assim há crescimento, porém abaixo do que o país precisa.
No cenário macroeconômico, temos um tri-lema: taxa de câmbio, inflação e crescimento econômico. Neste trilema você só pode ter dois de três fatores, e não os três combinados. Pode-se ter uma inflação baixa e juros baixos, mas sem crescimento econômico. Ou pode-se ter mais crescimento econômico e juros baixos, mas então terá inflação alta. Nós estamos esperando mais crescimento econômico, especialmente em 2015 e 2016 onde teremos melhores resultados: o consumo doméstico vai crescer, preços das commodities vão melhorar, e cinquenta porcento das exportações do país dependem disso. Claro que isso pode ser perigoso no equilíbrio econômico. Porém o Brasil agora exporta mais petróleo. Hoje em dia as maiores exportações para os Estados Unidos é petróleo.
Algumas mudanças na infraestrutura são através das chamadas PPP, Parcerias Público-Privadas. O Brasil cresceu na questão do emprego mas ainda precisa aumentar a produtividade, que é um dos fatores chave do crescimento. A demanda cresceu nos últimos anos. Em 2007 quando o Dr Barral foi secretário comemoraram pela primeira vez na história do país um volume de exportação de mais de 100 bilhões de dólares, e em 2009 foram mais de 200 bilhões de dólares.
Os mesmos portos, o mesmo crescimento econômico. A infraestrutura está supersaturada e precisamos de investimentos na área: ferrovias e portos, especialmente. Duplicou-se o número de veículos no país, aumentou-se a produtividade agrícola, e muitos estudos demonstram que o preço da soja no Mato Grosso é de cerda de cinquenta porcento do custos nos Estados Unidos. Mas quando você transporta a produção do Mato Grosso até os portos, aí ocorre um aumento brutal dos preços por causa dos custos de custos, e aí perde-se competitividade.
A administração da Dilma Roussef tenta melhorar as condições, por exemplo redução de impostos no setor automotivo, o que gerou protestos da União Européia. O BNDES está mais ativo, mas ainda há diversos desafios. O Brasil é um grande país, mas os problemas que enfrentamos são frutos do que deixamos de fazer no passado. Os impostos são pesados no Brasil, há um excesso de tributos, tanto a nível federal quanto estadual. Há ainda impostos nas exportações, e há poucos acordos de livre comércio. O Brasil era um país muito fechado, grande o suficiente para pensar apenas em si mesmo. O maior movimento de abertura foi Davos, antes disso era um país fechado, faltava um framework institucional.
Agora fazemos mais investimentos fora do país, mas temos que simplificar o sistema tributário brasileiro, que considera tudo investimento o que na verdade é à exportação de capitais. O Brasil tem problemas com a supply chain, por exemplo um navio pode ficar 6 dias encostado no porto brasileiro, em média. O ICMS pertence aos estados, os quais reagem muito mal se tentamos mudar isso. Há que fundir alguns desses impostos para simplificar os tributos brasileiros.
Os custos de logística não podem ser resolvidos de um dia para o outro, mas ainda assim há que se criar cenários mais favoráreis, com menos burocracia desnecessária. Nós cortamos milhares de licenças, por exemplo algumas que eram necessárias para o Ministério da Defesa, que foram criadas porque alguns desses produtos eram necessários durante a Segunda Guerra Mundial. O sistema burocrátivo todo tem que ser revisto.
O Brasil aprendeu com os planos econômicos do passado, que não funcionaram: o controle de preços não funciona, o congelamento de preços não funciona e alguns dos países vizinhos ainda não aprenderam, como por exemplo a Argentina e a Venezuela, que estão passando pelos mesmos problemas que enfrentamos nos anos 70 e 80. Não existem soluções mágicas ou salvadoras, não seria aceitável legalmente no país. Teremos apenas soluções previsíveis, o que é um bom sinal.
Falando do Mercosul, recentemente foi efetivada a entrada da Venezuela e da Bolívia, e o Brasil tem acordos de comércio com outros latino americanos. Em 2008 o Brasil assinou com Israel um tratado de livre comércio, e também com o Egito. Mas são poucos acordos se comparados com outros países emergentes. Os brasileiros reclamam dizendo que a causa disso é o Mercosul. Sim, o Mercosul é complicado. Perde-se tempo tentando convencer os argentinos, mas o Mercosul não tem a última palavra. Quando quisemos fechar um acordo com Israel, foi feita uma lista separada de concessões, para a Argentina (e vice versa).
O maior problema para o Mercosul assinar um acordo é a competitividade do setor da agricultura. Tentamos negociar com o México durante o governo Lula, mas o empecilho foi o setor agropecuário, sempre enfrentando as maiores barreiras para os acordos comerciais. As exportações do Canadá para o Brasil incluem maquinários, equipamentos e produtos químicos. A negociação entre o Mercosul e o Canadá, diplomaticamente falando, é muito lento. Poderemos ter um grande acordo entre o Canadá e Mercosul, a agricultura pode e vai ser um problema, porém pode ser muito mais fácil negociar com o Canadá do que com os países europeus. A prioridade do mercosul ainda é a União Européia, e estão tentando aprofundar um acordo de livre comércio. Mas num ano de eleições é difícil avançar com as negociações de acordos de livre comércio.
Leia a entrevista que ele concedeu à Revista Aquarela:
http://www.aquarelamagazine.com/accueil/entrevistas-entrevues/