por Yan Boechat | Para o Valor, de São Paulo
Durante décadas a Europa exerceu um fascínio, quase um fetiche, para as companhias brasileiras que sonhavam em conquistar o mundo por meio de seus serviços e produtos. No entanto, o complexo sistema regulatório, as duras leis trabalhistas e o andar lento da economia têm feito com que as multinacionais brasileiras deixem o sonho europeu para um segundo estágio em suas estratégias de internacionalização. A Europa, com sua rica população de mais de 500 milhões de habitantes, é claro, ainda é cobiçada por qualquer companhia do planeta. Mas, para as brasileiras, não é mais prioridade.
Levantamento da Fundação Dom Cabral (FDC) sobre as multinacionais do país mostra que a Europa se tornou apenas o terceiro destino preferencial das companhias brasileiras. Antes do ‘Velho Mundo’, América do Sul e Estados Unidos recebem mais atenção. Cerca de 50% das multinacionais brasileiras têm alguma operação na Europa, diante de quase 80% na América do Sul e cerca de 70% nos Estados Unidos. Pelo estudo da FDC, só 4,25% das empresas nacionais que cruzaram fronteiras optaram por iniciar esse movimento em algum país europeu. A explicação, diz o professor Sherban Leonardo Cretoiu, organizador da pesquisa, tem várias razões. Uma delas, e talvez a principal, é o fato de as empresas brasileiras nem sempre terem um capital tecnológico competitivo no mercado europeu.
A Metalfrio decidiu ir para a Europa por essa questão. Ela passou a se ver ameaçada pela forte concorrência chinesa, que conseguia obter vantagens competitivas atuando principalmente no segmento mais básico. ‘Era uma concorrência feroz, em que não conseguíamos competir, estávamos ameaçados de perder mercado’, diz Luiz Eduardo Moreira Caio, presidente-executivo. A solução foi buscar tecnologias para agregar mais valor a seus produtos e escapar da concorrência chinesa. ‘Fomos para a Europa atrás de tecnologia e de nossos clientes, que também estavam se internacionalizando’, diz Caio.
A companhia optou por fazer uma aquisição. Adquiriu a dinamarquesa Caravell, que já tinha longa tradição nesse mercado. Para conseguir reduzir os custos, a Metalfrio optou por ir para as franjas da Comunidade Europeia, onde a mão de obra é mais barata, mas com boa infraestrutura. Hoje produz no enclave russo de Caliningrado, na Polônia, às margens do mar Báltico, e na Turquia.
A companhia também foi para a Europa em busca de clientes antigos que iniciaram um processo amplo de internacionalização, como a Ambev, por exemplo.
A Stefanini foi com a cara e a coragem para a Europa no início dos anos 2000. A empresa, que tivera boas experiências na América do Sul optou por começar do zero em três países em 2003: Portugal, Espanha e Itália. ‘Não foi fácil e, hoje, com a experiência que temos, não sei se tomaríamos a mesma decisão’, diz Marco Stefanini, o presidente da empresa. Para ele, a Europa, sem dúvida, é um grande mercado, mas com igualmente grandes desafios.
Desde 2010, quando a companhia adquiriu a americana Tech Team, a Stefanini está presente em 12 países europeus. Optou, assim como a Metalfrio, em concentrar suas operações em países mais ao leste, mas que ainda estão dentro da União Europeia.
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