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Crise da Argentina vai provocar revisão global no papel dos fundos especulativos, Renata Vargas Amaral para O Globo

By 31 de julho de 2014No Comments

Disputa de argentinos e ‘abutres’ leva incerteza a negociações de dívidas

Lucianne Carneiro,Rennan Setti – O Globo
 
RIO e BUENOS AIRES – – Sejam quais forem os próximos passos na crise argentina daqui para a frente, especialistas acreditam que o imbróglio trouxe incertezas para futuros processos de reestruturação de dívidas soberanas e pode inviabilizar negociações de países em dificuldades. Além disso, vai exigir uma nova postura da Argentina em relação a sua política econômica e um esforço para reconquistar a confiança do mercado global.

Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ Luiz Carlos Prado, a situação trouxe dúvidas para as negociações de dívidas soberanas, que tem precedentes desde a dívida da Alemanha nos anos 1920, após a Primeira Guerra Mundial:

— De alguma forma, parece haver estímulo para um comportamento oportunista. Cria-se um precedente de que é um bom negócio adiar um acordo ou que, mesmo aceitando a reestruturação, pode ter dificuldades para receber o dinheiro lá na frente. Isso vale para a Grécia ou algum outro país em dificuldade.

A avaliação é compartilhada por Renata Vargas Amaral, da Barral M Jorge, especializada em economia internacional:

— No mínimo, essa crise vai provocar uma revisão global no papel desempenhado por esses fundos especulativos, os “abutres”, e no próprio sistema de reestruturação de dívidas soberanas. Tanto que os argumentos da Argentina ganharam muitas adesões de outros países — explicou.

Para Pedro da Motta Veiga, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), o imbróglio com os abutres representa um “risco moral” para os mercados:

— O sinal foi péssimo, foi um incentivo a ser “abutre”. Todos veem que a Argentina quer pagar sua dívida, mas está sendo impedida pela Justiça dos EUA. Também foi uma pena que o caso tenha emergido quando o governo argentino vinha fazendo ajustes necessários, como aumento dos juros.

Mais do que o impacto na reestruturação de dívidas de outros países, analistas destacam os efeitos na própria economia argentina, seja via fuga de capitais ou necessidade de uma nova postura.

Há quem acredite a tendência de saída de capitais da Argentina se acentue, principalmente para o Uruguai. De acordo com dados apresentados esta semana por bancos públicos e privados do Uruguai, em junho os depósitos de não residentes no país, dos quais estima-se que 75% sejam argentinos, aumentaram em US$ 152 milhões. Essa alta cinco vezes maior que a média mensal do último ano e meio.

Para economista do Ibre/FGV e professora da Uerj Lia Valls Pereira, a Casa Rosada terá de assumir um outro posicionamento se quiser recuperar um pouco da confiança dos mercados globais:

— Mesmo sem default, o governo argentino não tem muita perspectiva. A Casa Rosada terá de ser mais transparente, mostrar que o regime mudou, admitir que a inflação é maior do que sugerem os índices oficiais.

Na avaliação do ex-presidente do Banco Central argentino Aldo Pignanelli, “o governo atuou com grande imperícia e continua cometendo erros graves” na condução da crise:

— Não existe confiança, e isso afeta toda a economia.

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