Por Alex Frangos, Daniel Inman e Patrick McGroarty | The Wall Street Journal, de Hong Kong e Joanesburgo
Investimentos debandaram dos mercados emergentes, desestabilizando moedas, derrubando ações e trazendo dores de cabeça para governos já às voltas com o baixo crescimento.
Nos sinais mais recentes de agitação nos mercados, as bolsas despencaram na Ásia, enquanto o real e as moedas da África do Sul, Índia e Turquia se desvalorizaram em relação ao dólar. O peso mexicano, que apenas um mês atrás tinha atingido seu nível mais alto em quase dois anos, desceu ao seu menor patamar desde o fim de novembro.
A volatilidade nas negociações refletiu a dificuldade dos investidores em prever quando os bancos dos países desenvolvidos poderiam começar a recuar nos programas de estímulo à economia e qual o efeito que isso teria nos mercados mundiais.
O êxodo ameaça prejudicar o crescimento de economias emergentes que passaram a depender de grandes influxos de capital estrangeiro na esteira da crise financeira mundial.
Os juros das notas do Tesouro americano subiram e os investidores se preparam para a possibilidade de o Federal Reserve (o BC americano) começar a reduzir as compras de títulos de dívida que vem fazendo para estimular o crescimento. Isso, mais a crença de que a economia dos Estados Unidos vem se saindo melhor que a do resto do mundo, está tornando os ativos americanos e o dólar mais atraentes que as relativamente arriscadas ações e moedas dos países emergentes.
O nervosismo dos investidores foi agravado ontem pela chegada de mais dados desanimadores. As Filipinas informaram que suas exportações caíram 7% em abril comparadas com um ano atrás, reforçando o sentimento de que o comércio mundial está desacelerando. Os tumultos na Turquia, a decepção dos investidores com a decisão do Banco do Japão de não mexer no seu programa de compra de dívida e os novos temores sobre as iniciativas da Europa para sanar seu sistema financeiro pioraram as coisas.
As bolsas asiáticas foram as primeiras atingidas. A da Tailândia caiu 5% e a das Filipinas, 4,6%, o pior dia para ambas desde o fim de 2011. Já a da Indonésia recuou 3,5%. A Bovespa fechou com queda de 3%, em 49.769 pontos.
‘Parece que a festa está acabando’, disse Howard Wong, diretor-gerente da Doric Capital Corp. em Hong Kong.
Diante da fuga de capital estrangeiro, os BCs desses mercados emergentes correram para amparar suas moedas.
O BC da Índia interveio no mercado de câmbio para interromper a subida do dólar para um máximo recorde de 58,98 rúpias, antes de a moeda local se recuperar. Já o BC da Turquia anunciou novas medidas para atrair capital que se assemelham à extinção do IOF de 6% sobre investimento estrangeiro decretada pelo governo brasileiro.
Mas a fuga de capital continuou acelerada, principalmente nas economias muito dependentes de matérias-primas, cujos preços vêm caindo. A África do Sul, grande produtora de platina e ouro, viu o dólar subir quase 2% para 10,38 rands.
No Brasil, o BC aumentou suas intervenções diante da queda rápida que o real vem sofrendo desde 28 de maio, com uma série de cinco leilões de contratos de swap cambial em duas semanas. Os leilões – que equivalem a uma compra futura de dólares, permitindo a investidores trocar títulos vinculados à taxa de referência Selic por outros indexados à variação cambial – tendem a conter a desvalorização, mas não por muito tempo. Após a atuação do BC, o dólar fechou com queda de 0,51% ontem, a R$ 2,1370.
Há meros dois meses, uma onda de dinheiro percorria o mundo à procura de juros mais altos. O programa de afrouxamento monetário que o BC japonês anunciou em 4 de abril coincidiu com um corte de juros pelo Banco Central Europeu e a expectativa de que o Fed continuaria por mais algum tempo suas compras mensais.
Mas várias coisas mudaram. O Fed indicou em maio que poderia reduzir o programa este ano. E a injeção de liquidez do Banco do Japão perturbou os mercados. Além disso, há sinais de que as economias emergentes não estão crescendo como esperado, enquanto as perspectivas dos EUA se mantêm positivas.
Dados recentes mostraram que as exportações da China subiram somente 1% em maio ante um ano atrás, o menor crescimento em dez meses. Brasil e Índia vêm sofrendo com desacelerações, que desorientam os governos e tiram o brilho de dois mercados considerados entre os mais promissores do mundo.
‘Até bem pouco tempo atrás a conversa era sobre fluxos de capital provocando bolhas nos preços dos ativos’, disse Gareth Leather, economista da Capital Economics em Londres. ‘Isso mudou muito rápido.’
(Colaboraram Khushi t a Vasant, de Mumbai, e Tom Murphy, de São Paulo.)
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