Terminou nesta terça-feira, em Buenos Aires, Argentina, a reunião do G-20, grupo das 20 economias mais avançadas do mundo, com a União Europeia atuando como bloco, que teve como principal tema a crescente onda protecionista pelo mundo.
O encontro, que teve como participantes os ministros das Finanças (da Fazenda, no caso do Brasil) e presidentes dos Bancos Centrais dos Estados envolvidos, abordou questões como a regulação das chamadas criptomoedas ou moedas virtuais (bitcoins e congêneres), financiamento para infraestrutura e taxação de empresas que operam exclusivamente pela Internet. Mas o assunto principal do evento foi, sem dúvidas, o protecionismo internacional, acentuado pela recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar em 25% o aço e em 10% o alumínio importados pelo país.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a advogada Renata Amaral, especialista em Direito do Comércio Internacional, diretora da Barral M Jorge Consultoria e idealizadora do movimento Women Inside Trade Brasil, descreveu o protecionismo como uma medida que, além de nada acrescentar, é altamente prejudicial para todas as partes, tanto exportadores quanto importadores:
“O protecionismo não é bom para ninguém. Nossa percepção, muito clara, é de que o protecionismo não favorece ninguém. Devemos lembrar que, após a Segunda Guerra Mundial, tivemos a criação de entidades como a Organização das Nações Unidas, do GATT (Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas), que precedeu a OMC (Organização Mundial do Comércio), e outras entidades internacionais de relevo como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional), todas elas com objetivo claro de respaldar as relações políticas e comerciais entre os países. Então esse recrudescimento do protecionismo que temos observado nos últimos anos e, muito significativamente, nas últimas semanas, com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar o aço e o alumínio importados, preocupa muito porque o resultado disso é a criação de uma nova geografia do comércio internacional e governança global.”
De acordo com Amaral, a sobretaxação dos metais por parte do governo de Donald Trump terá como um dos maiores perdedores o próprio consumidor norte-americano, uma vez que a medida vai encarecer toda a cadeia comercial para quem for pagar pelos seus custos. Outra consequência negativa disso, para ela, é a possibilidade de outros governantes decidirem seguir pelo mesmo caminho.
“Quando um país forte como os Estados Unidos toma medidas contrárias aos princípios da Organização Mundial do Comércio, adotando posições protecionistas, o que ele está fazendo é estimular outros países a também seguir por este caminho. Ora, isso pode gerar uma guerra desenfreada que ninguém sabe como termina”, disse ela.
Indo além, a especialista afirma que as recentes medidas tomadas por Washington, prestes a entrar em vigor, contradizem o histórico de decisões de várias administrações anteriores na Casa Branca:
“Donald Trump tem um poder muito grande nas mãos. A economia dos Estados Unidos é a mais forte do mundo ou, pelo menos, está entre as mais fortes do mundo, e é muito contraditório o que ele está fazendo. Se você olhar para trás, para a história recente, verá que nos últimos 70 anos, os Estados Unidos representam o país que mais estimulou o multilateralismo e o livre comércio entre as nações. Esse país sempre foi um dos maiores defensores das instituições mundiais criadas após a Segunda Guerra. Então, tudo o que Donald Trump tem feito desde que assumiu a presidência é muito contraditório com a própria história do seu país.”
O encontro do G-20 na Argentina foi considerado preparatório para a grande reunião de líderes que acontecerá em novembro, desta vez com a participação dos chefes de Estado e governo.