Para discutir assuntos como um acordo de livre comércio e o fim da dupla tributação, lideranças empresariais do Brasil terão nesta semana uma série de encontros em Washington com representantes do governo, do setor privado e do Congresso dos Estados Unidos.
Eles vão participar da missão de defesa dos interesses brasileiros realizada anualmente pelo Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU), num momento em que as relações entre os dois países mostram algum sinal de melhora. Essas relações esfriaram no ano passado, quando as denúncias de que a presidente Dilma Rousseff (PT) foi espionada pelo governo americano a levaram a adiar uma visita de Estado marcada para outubro de 2013.
Por muito tempo resistentes a tratar da abertura de mercado com os EUA, representantes da indústria brasileira passaram a defender no ano passado um acordo de livre comércio com o país. Líder da missão que vai aos EUA, o diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, afirma que o empresariado vê o Brasil se afastar das grandes decisões no mundo.
‘O Brasil está numa forte busca por tecnologia e inovação, e isso passa por termos acesso facilitado aos países desenvolvidos’, afirma ele. Um acordo de livre comércio ajudaria o país a participar das cadeias produtivas globais, num quadro em que a indústria perde competitividade.
A sugestão do CEBEU é que haja uma negociação de um acordo entre o Brasil (ou o Mercosul) e os EUA que inclua acesso a mercados e cooperação, entre outros temas. O primeiro passo seria definir um grupo de trabalho por 180 dias, aos cuidados da Comissão de Relações Econômicas e Comerciais Brasil-Estados Unidos. Isso possibilitaria aos governos, em consultas ao setor privado, identificar áreas de convergência, podendo abrir terreno para lançar negociações formais. Hoje, o Brasil está amarrado ao Mercosul nas negociações de livre comércio com outros países.
Um acordo para evitar a dupla tributação entre Brasil e EUA também seria importante, dado que muitas empresas brasileiras se internacionalizam, diz Abijaodi. A ideia do CEBEU é um acerto que desonere e promova o investimento das companhias brasileiras nos EUA e das americanas no Brasil, e também redução impostos sobre remessas de lucros, juros e dividendos entre os dois países.
Outro tema a ser tratado na missão do CEBEU é o Global Entry, com o objetivo de tornar mais fácil a entrada de brasileiros no território americano. O programa permite que quem viaja frequentemente aos EUA entre no país sem passar pelas filas de imigração. Basta colocar o passaporte em quiosques existentes em vários aeroportos americanos, para serem lidos eletronicamente.
As negociações para o Global Entry estavam avançadas antes do esfriamento das relações. Conforme Abijaodi, deverá haver uma ação recíproca para os EUA, com a criação de um programa nos mesmos moldes para os visitantes americanos. Os empresários brasileiros também tratarão de assuntos como um acordo previdenciário para que os trabalhadores possam aproveitar o tempo de trabalho nos dois países para a aposentadoria.
Para Abijaodi, a relação entre os dois países teve uma ‘pequena melhora’ nos últimos meses. ‘O afastamento não traz vantagem ao empresariado brasileiro’, afirma ele, observando que aprofundamento da relação entre os dois países passa pelo governo e pelo setor privado. Neste ano, a relação bilateral voltou a avançar. O ápice deste ano foi em junho, quando o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, se encontrou com Dilma no Brasil, durante a Copa do Mundo.
A missão brasileira do CEBEU vai se encontrar com representantes de órgãos como o Departamento de Estado, o Departamento de Comércio, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos e o Departamento de Agricultura, além da Câmara Americana de Comércio e congressistas americanos. Há integrantes da CNI, da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), União da Indústria da Cana-de-Açucar (Unica), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e de mais cinco outras associações, além de empresários da Embraer, da Braskem e da Itaueira, empresa do mercado de melão.