SÃO PAULO – O economista Antonio Delfim Netto estima que a indústria brasileira tenha perdido R$ 370 bilhões, entre 2002 e 2014, soma do que deixou de exportar para o resto do mundo e também de produzir em troca de importar. Para ele, está na indústria, e no comércio exterior, a principal explicação para o país ter parado de crescer.
“O Brasil não cresce porque a indústria não cresce. E a indústria não cresce porque o país jogou fora o comércio exterior, que é um de seus motores mais importantes”, disse o economista, ex-ministro da Fazenda, durante seminário com empresários na Acrefi, em São Paulo.
Um exemplo disso é o uso que o governo tradicionalmente fez do câmbio como política de controle de preços, em vez de política industrial ou comercial. “As exportações não cresceram porque faltou uma política cambial previsível. Há 30 anos o país vem usando o câmbio para controlar inflação e abandonou a prioridade de uma tarifa de câmbio competitiva para a indústria.”
O resultado foi uma perda crescente na participação do país no comércio exterior. Delfim estima que, de 1962 até 1986, o país multiplicou por dez sua fatia no total de bens e serviços que circulam pelo mundo (saiu de 0,05% pata 0,95%), mas dali para frente a trajetória foi decrescente. Hoje, essa participação caiu para praticamente à metade do pico alcançado nos anos 1980.
O encolhimento coincidiu também com o avanço exponencial da China sobre a economia mundial, fenômeno contra o qual o país acabou não se equipando: entre 1983 e 1985, exemplificou, a participação do Brasil no comércio mundial foi de 0,9% do total, ao lado de uma fatia de 1% para os produtos chineses. Entre 2011 e 2013, a média brasileira caiu para 0,7%, enquanto a China conquistou 16,6% do bolo global.
(Juliana Elias | Valor)