Por Sergio Lamucci | De Washington
A produção de petróleo e gás nos Estados Unidos cresce com força, reduzindo expressivamente a dependência energética do país. Com o impulso da chamada revolução do xisto, os EUA produziram, de janeiro a setembro de 2013, 84,5% de toda a energia consumida, a fatia mais alta desde 1987, numa conta que inclui outras fontes, como o carvão, a nuclear e os combustíveis renováveis. O gás natural e o petróleo responderam por 68% dos combustíveis fósseis produzidos no período, e por mais de 53% do total de energia.
Para dar uma medida do boom no setor, o professor Mark Perry, da Universidade de Michigan, destaca que a produção combinada de petróleo e gás em 2013 atingiu o equivalente a 44,5 bilhões de BTUs (British termal units) de energia, próximo do nível recorde atingido em 1971, segundo estimativas da Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês). Desse total, 16,5 bilhões de BTUs são de petróleo e os 28 bilhões restantes, de gás natural. Neste ano, o total deve subir para 46,3 bilhões de BTUs, o que será a mais elevada da história.
Em seu blog ‘Carpe Diem’, Perry ressalta que a produção só alcançou o nível mais alto em 42 anos por causa das tecnologias avançadas de extração da fratura hidráulica e da perfuração horizontal, que começaram a explorar os ‘oceanos de petróleo e gás de xisto em 2006’. Pelo método conhecido como ‘fracking’, fraturam-se as rochas de xisto para liberar o gás e o petróleo dentro delas, por meio da injeção de areia, produtos químicos e água a alta pressão. Graças a essas novas técnicas, o declínio na produção iniciado no começo dos anos 1970 foi ‘completamente revertido nos ‘últimos sete anos’, afirma Perry.
Sem a revolução do xisto, a produção de petróleo e gás seria muito menor hoje. Mantida a tendência de queda observada entre 1971 e 2005, ela seria de cerca de 30 bilhões de BTUs em 2013. ‘Olhando para frente, essa trajetória de baixa tenderia a levar a produção para a casa de 22 bilhões de BTUs em 2040, ou cerca de 62% abaixo da projeção da EIA para aquele ano, de 58 bilhões de BTUs’, diz o economista, também pesquisador do centro de estudos American Enterprise Institute (AEI). O gás de xisto já responde por cerca de 40% da produção total de gás natural do país, segundo dados de 2012. Vem do xisto algo como 30% da produção do petróleo.
A BP estima que os EUA atingirão a autossuficiência energética em 2035, com a produção total crescendo 24% e o consumo, apenas 3%. Nas contas da BP, a fatia da produção doméstica, hoje pouco superior a 84%, equivalerá a 101% do consumo em 2035. O gás natural passará a ser o principal combustível consumido pelos americanos em 2027, subindo dos atuais 30% para 35%, enquanto a parcela do petróleo vai cair de 36% para 29%.
Os números de emprego no setor de petróleo e gás também evidenciam a vitalidade do segmento, diz Perry. Em dezembro do ano passado, havia 504 mil pessoas empregadas nessas indústrias, 55% a mais do que em janeiro de 2007. É um desempenho muito superior ao da média da economia – o total de empregos, desconsiderando a agropecuária, está em 136,9 milhões, 0,2% abaixo do registrado em janeiro de 2007.
Para o professor, a revolução do xisto ajudou a abreviar e tornar menos dolorosa a recessão que se seguiu à crise que começou em 2007 e se agravou em 2008, além de melhorar as perspectivas para o futuro. O bom momento do setor produz um impacto significativo sobre o resto da economia, acredita ele, afirmando que as cadeias de fornecimento de petróleo e gás são longas e profundas.
Nos Estados em que há o boom do xisto, como Dakota do Norte e Texas, a atividade vai muito bem, lembra Perry. Em Dakota do Norte, por exemplo, a taxa de desemprego em novembro – o número mais recente disponível para estatísticas estaduais – estava em 2,6%, muito abaixo da média nacional de 7% naquele mês. Em dezembro, a taxa nacional caiu para 6,7%.
Com o aumento da produção de petróleo, a importação do produto tem caído com força. Estimativas apontam para compras médias de 7,7 milhões de barris por dia em 2013. ‘Isso representa uma queda de 10% em relação a 2012 e de 25% em relação ao pico atingido em 2004, de 10,5 milhões de barris por dia’, aponta relatório da Capital Economics. Segundo a consultoria, os EUA provavelmente importarão 5,5 milhões de barris diários em 2015, com base nas projeções da EIA para a produção da commodity, que prevê aumento de 20% nos próximos dois anos.
Perry dá outro exemplo que mostra a magnitude da alta da produção do petróleo. Na semana encerrada em 10 de janeiro, os EUA produziram uma média de 8,16 milhões de barris por dia, 42,5% a mais do que há dois anos. Nesse período, houve um aumento de 2,4 milhões a mais de barris por dia, o equivalente a toda a produção media diária da Nigéria em setembro do ano passado.