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BMJ

A geopolítica da energia

By 21 de July de 2014No Comments

A dependência energética entre as nações é um fator que move a geopolítica mundial; de fato, energia e geopolítica “caminham juntas” por serem dois temas de alta relevância da agenda internacional. Se tomarmos em conta as relações políticas e energéticas entre os países, podemos rapidamente perceber a dependência entre os mesmos e a forte centralização em algumas fontes, casos do petróleo e gás natural.

Ao observamos a cadeia global energética movimentada por essas duas fontes, podemos identificar a necessidade que os Estados-chave têm em diversificá-las. Podemos analisar a necessidade europeia ocidental em não depender do gás natural russo que atravessa a Ucrânia – ou, recentemente, da própria Ucrânia, que viu o valor do gás natural russo triplicar de valor após os recentes acontecimentos na fronteira; da China e o petróleo que atravessa o estreito de Málaga (região de Cingapura); ou do Chile que depende do gás natural da Argentina, que precisa importar da Bolívia. A partir daí percebemos a forte dependência das rotas energéticas que regram as principais relações políticas mundiais. Seria cabível a mudança e descentralização dessas principais rotas por meio da diversificação das fontes energéticas?

Essa necessidade se traduz em ações concretas dos principais atores globais atualmente. Os Estados Unidos, por meio do gás e óleo de xisto, pôde se considerar, recentemente, autossustentável energeticamente. Já a China assinou um acordo no primeiro semestre com a Rússia, de US$ 400 bi, para o fornecimento de gás russo por 30 anos – ao mesmo tempo em que o maior consumidor de energia do mundo procurava novas fontes de energia, os russos procuravam novos parceiros como segurança a possíveis retaliações da União Europeia.

 A descentralização das fontes de energia pode facilmente diminuir a vulnerabilidade de algumas rotas energéticas específicas, como aquelas citadas anteriormente. Contudo, é essencial avaliar a descentralização e novos rumos geopolíticos por meio da cadeia do petróleo, a maior fonte energética da cadeia global. Vale destacar que sua descentralização é necessária, visto que, dentre diversos temas, o de sustentabilidade cada vez mais afeta a mudança e adoção de novos meios de energia na cadeia industrial.

Os avanços sustentáveis mundiais estão intrinsicamente ligados à valorização e desvalorização das principais fontes energéticas, ou seja, a demanda energética é ligada a capacidade produtiva mundial. Em tempos de grande capacidade produtiva, o petróleo se valoriza vertiginosamente, ao tempo que em épocas de crise, há sua desvalorização. Podemos identificar, portanto, que as pesquisas por meios alternativos de energia se destacam em momentos de valorização da cadeia energética, o que pode nos levar aos acontecimentos pós-2008, que, a exemplo do Brasil e do pré-sal, fez com que os países se voltassem novamente às fontes de energia tradicionais e não renováveis.

Os movimentos geopolíticos, do ponto de vista energético, caminham, cada vez mais, para a autossuficiência, de forma a permitir que outros fatores da geopolítica e da agenda global não sejam influenciados pelo poder energético ou, ao contrário, o poder energético influenciando decisões políticas.

Das medidas de descentralização da produção de energia, podemos destacar as potenciais campanhas de fontes renováveis de países em desenvolvimento como o Brasil, que desde a década de 1970 investe em fontes renováveis; a Índia, que aproveita grande quantidade de seus resíduos orgânicos para produzir energia eficiente e barata; da China, e seu potencial hidroelétrico e solar; ou da União Europeia e o potencial eólico dos países nórdicos. Há de se esperar que com o passar dos efeitos da Crise de 2008 os países tornem a voltar sua atenção para as novas demandas energéticas.

A independência energética deve ser analisada pelos países, portanto, como uma chance de variar suas fontes da forma mais diversificada possível, de modo que não aconteça no futuro o mesmo que ocorreu com o petróleo e anteriormente com o carvão mineral – uma única fonte energética que move as ações da geopolítica. A diversidade deve tomar conta da nova agenda geopolítica da energia.

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Eric Moraes e Raphael Lenzi são colaboradores da Barral M Jorge na área de Relações Governamentais & Assuntos Corporativos e graduandos em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). 

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