A última segunda-feira rendeu fortes emoções para quem está acompanhando de perto as definições para o cenário eleitoral de 2018. Se, de manhã, o mercado acordou com o artigo do apresentador Luciano Huck afirmando claramente que não concorreria a presidência, a noite da segunda-feira terminou com o «topo» de Geraldo Alckmin para assumir a presidência do PSDB, o que praticamente pavimenta a sua candidatura à presidência pelo partido, que vinha sido engolido pelas crises internas e sofre, a cada dia, com maiores chances de isolamento para 2018 em meio ao forte racha interno.
Porém, com os últimos movimentos feitos, levando a retirada de um outsider como Huck e a (quase) unificação dos tucanos em torno do nome do governador paulista, a proliferação de diversos candidatos chamada centro-direita estaria dirimida, fazendo com que a leitura de um cenário como o de 1989 parecesse também mais distante.
A unificação da chamada centro-direita também iria em linha com a intenção de Michel Temer de criar uma frente de partidos para defender seu legado e buscar 2018. O PSDB estaria teoricamente incluso nessa frente, caso conseguisse se aglutinar e sair da guerra interna – as divisões ainda continuam, mas talvez o pior já tenha passado para os tucanos.
Contudo, «o diabo mora nos detalhes», apesar de Alckmin ser visto como um nome que ainda pode levar a maior consenso, ainda não é visto com muita empolgação por diversos outros partidos, inclusive aqueles que estão no Palácio do Planalto.
Ao mesmo tempo, avalia o diretor de relações governamentais da Barral M Jorge, Juliano Griebeler, o fato de haver uma oposição ainda fraca estimula diversas candidaturas dentro do campo governista, pois há poucos incentivos para os partidos se juntarem e não tentarem lançar candidatos para concorrer. Isso seria mais estimulado em meio à avaliação de que Alckmin não tem sido um defensor do governo).
A sintonia entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cada vez mais líder do Centrão, e do ministro da Fazenda e presidenciável Henrique Meirelles também podem enfraquecer o potencial de uma candidatura quase certa de Alckmin, conforme aponta a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, desta terça-feira. Por outro lado, o que sinaliza o cenário ainda bastante nebuloso, o Estadão de hoje reforça que a ala do PSDB que apoia o governo Temer apoiou a escolha de Alkmin para presidir o partido, sugerido espaço para uma composição do Planalto com o governador. Já na avaliação do Palácio do Planalto, Alckmin vai precisar do apoio do PMDB para tentar «levantar» sua candidatura à Presidência.
Candidatura unificada é bom?
De qualquer forma, na avaliação da consultoria de risco político Eurasia Group, os dois nomes colocados (Meirelles e Alckmin), sendo retiradas as opções de Huck e João Doria (no momento) pode diminuir a possibilidade da eleição e um candidato reformista e pró-mercado.
Isso porque a grande questão para 2018, na visão dos analistas políticos da consultoria, não é se Lula, líder nas pesquisas, será candidato ou não (para eles, o petista não será elegível ano que vem, e caso seja, sofrerá com a forte rejeição que possui no eleitorado), mas sim qual é a força de uma candidatura reformista que esteja muito associada ao establishment em um momento de ira da população com os políticos.
Em agosto, vale lembrar, a consultoria afirmou que Alckmin era uma espécie de «Hillary Clinton do Brasil», muito associado ao establishment político. Assim, candidaturas como a de Huck e a de Doria seriam importantes e aumentariam as chances de um candidato reformista ser eleito em 2018 em meio ao sentimento anti-político dos brasileiros.
«Alckmin pode se posicionar como uma opção centrista e pode muito bem vencer, mas se ele for a única esperança reformista em 2018, as chances de um resultado negativo no mercado cresceriam», avalia a Eurasia.
Assim, as portas para Alckmin estão abertas e agora, mais forte dentro do partido, pode inclusive se movimentar para buscar um consenso maior em torno do governo Temer, levando a um maior ritmo de saída dos quadros do partido da gestão Temer (notoriamente Antônio Imbassahy da Secretaria de Governo, que deve ser substituído por Carlos Marun), o que amenizaria também a tensão entre o governo, o PMDB e o centrão. Ao mesmo tempo, os tucanos apoiaram as reformas econômicas, notoriamente a da Previdência, levando ao «melhor dos mundos» para o governo.
Porém, para 2018, o cenário que se aponta é menos claro. Enquanto o PSDB pode se dividir em defender ou não o governo no ano que vem, mostrando que a disputa ainda não acabou, a candidatura de Alckmin ainda terá que passar por novos testes e mostrar que pode empolgar ainda mais para angariar mais apoios. Neste sentido, as próximas pesquisas de opinião popular podem ter um importante papel nisso.
O começo da semana mostrou que o governador de São Paulo mais fortalecido (e ele é visto agora pelo mercado como o grande nome reformista para 2018, como apontou a última pesquisa da XP Investimentos feita com investidores institucionais). Porém, a sua candidatura ainda enfrentará uma série de desafios. Desta forma, aponta Griebeler, as negociações ainda estão ocorrendo e em abril deveremos ter uma visão mais clara das filiações partidárias e das alianças que devem se consumar (e como Alckmin saíra desse processo).
Assim, o próximo passo para Alckmin será convencer a bancada do PSDB a votar a favor da reforma da Previdência e, assim, deixar a porta aberta à possibilidade de um acordo eleitoral com o campo governista (PMDB e todo o Centrão) em 2018, avalia a LCA Consultores. Se o PSDB inviabilizar o esforço do Planalto para votar neste ano a Previdência na Câmara, a hipótese de Alckmin ser o candidato do balcão governista minguará, reforça a equipe de análise da consultoria.
«Ao que parece, Alckmin e seu entorno político ainda não estão seguros quanto à conveniência de ele ser o principal representante governista na disputa presidencial de 2018. Não é uma opção isenta de custos eleitorais. Mas não lhes convém inviabilizar desde já essa alternativa», concluem os consultores.