Por César Felício | De Buenos Aires
A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem, em Buenos Aires, esperar que a mineradora Vale volte a negociar o projeto de exploração de potássio do rio Colorado com o governo da Argentina. ‘O diálogo é o melhor caminho para encontrar soluções e a Vale vai encontrar o caminho para construir um acordo com as autoridades argentinas’, afirmou Dilma em declaração à imprensa, depois de seis horas e meia de reunião com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na Casa Rosada.
A Vale suspendeu o projeto e o colocou à venda no inicio deste ano. Orçado inicialmente em US$ 6 bilhões, o projeto é o maior investimento direto estrangeiro na Argentina.
De acordo com o ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, ‘a saída que está apontada é que a Vale volte a explorar e produzir’. Mais cauteloso, o governador da província de Mendoza, Francisco Perez, disse que na reunião de hoje se armou novamente um cenário de diálogo entre as partes, embora tenha ressaltado que a presidente Dilma Rousseff deixou claro que ‘o governo do Brasil não é a Vale’.
A questão da Vale foi o único tema bilateral tratado na reunião mencionado pelas presidentes em sua declaração conjunta à imprensa. Dilma Rousseff e Cristina Kirchner não detalharam o que discutiram sobre as novas regras do regime automotivo ou sobre a venda dos ativos de refino e distribuição da Petrobras na Argentina. Também não mencionaram iniciativas para destravar o comércio bilateral, que teve o fluxo reduzido no último ano.
As duas presidentes preferiram ressaltar o consenso para reincorporar o Paraguai ao Mercosul. O país, suspenso do bloco desde junho do ano passado, elegeu no domingo como presidente o empresário Horacio Cartes, que substituirá Federico Franco, vice-presidente que assumiu o lugar de Fernando Lugo, afastado em um processo de impeachment contestado pelo Brasil e pela Argentina. ‘O desenrolar dos últimos fatos demonstrou que é possível afirmar a democracia como um valor e manter a estabilidade na região. Temos uma capacidade elevada de elaborar consensos’, disse Dilma.
O encontro ocorreu em um dia de agudização da crise política e econômica da Argentina. A cotação do dólar no câmbio paralelo atingiu 9,40 pesos, nível inédito nos últimos 20 anos, e um novo panelaço estava convocado para a noite em função da aprovação de uma reforma pelo Congresso, que diminuiu a autonomia do Poder Judiciário.