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BMJ

Balança comercial: ainda deve melhorar

By 5 de janeiro de 2016No Comments

Welber Barral (*)

Revertendo a tendência dos últimos anos, a balança comercial de 2015 registrou um superávit de quase US$ 20 bilhões. Como resultado geral, seguramente é positivo para as contas do País, num momento de crise de credibilidade.

Ao mesmo tempo, a análise dos dados permite também algumas conclusões: em primeiro lugar, a de que o superávit foi derivado de uma brutal queda de importações. Se isto pode ser visto como positivo no que se refere à substituição de insumos importados por similares nacionais, não é verdade no que se refere à importação de bens de capitais (que caiu 20% no ano). Em outras palavras, não importar bens de capitais indica que as empresas estão investindo menos na modernização de seu parque produtivo, o que – no médio prazo – pode comprometer sua competitividade e a incorporação de novas tecnologias na manufatura nacional.

Do lado das exportações, uma conclusão possível é que a reação exportadora ainda não ocorreu, apesar do câmbio favorável. Ao contrário, as exportações industriais caíram 8% neste último ano. As explicações para esta dificuldade em aproveitar o mercado externo não são difíceis: o mercado externo encontra-se em retração, dificultando a entrada de novos fornecedores; apesar do câmbio, os custos de produção no Brasil ainda são altos, tanto em custo de mão-de-obra quanto em custos logísticos e burocráticos; o sistema tributário continua a punir os exportadores, sobretudo em cadeias produtivas mais longas; a conclusão de acordos internacionais, dos quais o País não participa, eleva as tarifas relativas em relação aos produtos brasileiros.

Para 2016, é provável que o esforço exportador da indústria brasileira comece a dar resultados, sobretudo no acesso a novos mercados. Há um ciclo natural para aceder a mercados externos – envolvendo promoção comercial, certificações, distribuição, logística – que deve ser completado, para alguns setores, apenas nos próximos anos.

Do lado do governo, são louváveis as iniciativas do MDIC para mitigar custos operacionais e burocráticos dos exportadores brasileiros, que enfrentam concorrentes mais ágeis na arena internacional. Entretanto, a virtual eliminação de alguns incentivos (como fundos para financiamento à exportação e, sobretudo, o Reintegra) afetou negativamente o entusiasmo dos exportadores nacionais.

Por fim, A retração de demanda no Brasil voltou a ensinar aos industriais brasileiros o risco de apostar apenas no mercado interno. Reagindo com rapidez, várias indústrias voltaram a investir em promoção comercial e na distribuição de seus produtos no mercado externo, não apenas em razão do incentivo cambial, mas também como forma de mitigar a queda de demanda interna. A continuidade deste esforço será crucial para atingir, em 2016, uma elevação ainda mais substancial do saldo da balança comercial brasileira.

 

(*) Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Veja.

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