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O Brasil teria mais a perder do que a ganhar em uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, segundo especialistas e fontes do governo. A avaliação é que, embora as exportações brasileiras possam ter alguma vantagem pontual na hipótese de os chineses fecharem seu mercado para alimentos como soja ou carnes dos EUA, as perspectivas em relação ao futuro não são nada boas se a disputa entre as duas nações se acirrar: exportações menores, devido à queda nos preços das commodities; aumento de importações de manufaturados; crédito mais caro por conta das incertezas; e um mundo mais protecionista.

Se a guerra comercial se acirrar, isso pode provocar redução do comércio mundial, o que atinge o Brasil. Nosso ganho indireto não seria tão bom — comentou uma fonte do governo.

Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) mostram que, no ano passado, a China vendeu US$ 150 bilhões ao Brasil, sendo a quase totalidade de manufaturados. Tecidos e confecções, telefones
celulares, automóveis, autopeças, eletroeletrônicos e componentes, laminados planos de ferro e aço, tudo isso pode entrar de forma mais forte no país, preveem técnicos da área de comércio exterior do governo.

De acordo com uma fonte da área econômica do governo, em uma guerra comercial, todos perdem. Em setores específicos, pode ser que o Brasil e os demais sócios do Mercosul substituam os EUA como fornecedor de alimentos. Porém, a consequência é que esses alimentos terão sua oferta ampliada, o que causará perda de valor das commodities, que são o principal item da pauta brasileira de exportações.

— Se a China deixar de comprar soja dos EUA, vai comprar do Brasil bem mais barata, porque o preço vai deprimir — confirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

No ano passado, a China vendeu US$ 2 trilhões para o mundo, dos quais US$ 384 bilhões para os americanos.

 

Risco de cota no aço

 

Para o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, o Brasil seria prejudicado pela redução da demanda chinesa:

— Exportando menos para os EUA, a China cresce menos e compra menos matéria-prima, inclusive do Brasil.

Ainda segundo o Mdic, em 2017 a China foi a maior compradora de alimentos do Brasil. Liderou as compras de soja, com 78,97% do total vendido pelo país. Os chineses também lideraram o ranking de importadores de carne bovina e ficaram em terceiro lugar como compradores de carne de frango do Brasil.

— Essa guerra comercial cria um ambiente de instabilidade – disse o consultor Welber Barral, que já foi árbitro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e secretário de Comércio Exterior.

A economista Monica de Bolle vê outro risco: os EUA cobrarem a fatura pela isenção temporária da cobrança das sobretaxas nas importações de aço e alumínio.

 

— É muito provável que os EUA peçam ao Brasil para ajudar Trump a bloquear as exportações da China para o mercado americano. Apesar dos EUA serem um parceiro importante, a China é mais.

O governo americano deixou a porta aberta para a imposição de cota de importação dos produtos vindos das nações beneficiadas pela isenção temporária no aço em texto publicado ontem.

Nota divulgada nesta sexta-feira pelos ministros das Relações Exteriores, Aloyzio Nunes, e do Mdic, Marcos Jorge, afirma que o governo brasileiro não abrirá mão de insistir na exclusão permanente do Brasil das sobretaxas. O texto ressalta que o Brasil buscará negociar a isenção definitiva da tarifa no aço e no alumínio com a maior brevidade
possível.

 

 

 

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