O investimento chinês não para de crescer no Brasil. De janeiro a outubro desse ano já foram quase US$ 11 bilhões aplicados em diversos projetos de infraestrutura, dos quais mais de US$ 3 bilhões somente no bimestre agosto/setembro, segundo o último boletim do Ministério do Desenvolvimento.
As dificuldades de caixa de empresas e o barateamento no preço dos ativos — reflexos da recessão enfrentada pelo país em 2015 e 2016 — aumentaram o interesse dos chineses, não só da parte dos bancos públicos de investimento como também de grandes grupos empresariais. Em alguns setores, por exemplo, a participação do capital chinês é expressiva. Após dois anos de compras, por exemplo, a China Three Gorges já se tornou a segunda maior geradora de energia privada no Brasil.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a diretora de Comércio Internacional da Barral M Jorge Consultoria em Comércio Exterior, Renata Amaral, diz que a tendência é esse investimento crescer também em 2018, apesar das turbulências do cenário político brasileiro e das eleições presidenciais.
“A crise não abalou em nada o fluxo de Investimento Direto (IED) para o Brasil. Pelo contrário. Esse ano a gente começou a perceber um aumento significativo, sobretudo dos chineses no segmento de óleo e gás, construção civil. Nosso maior investidor externo tem sido os Estados Unidos, mas tudo leva a crer que a China vai passar os EUA no ano que vem. Os estrangeiros têm visto a crise como uma grande oportunidade”, afirma a diretora da Barral M Jorge.
Nos últimos 14 anos, a maior parte dos investimentos chineses no Brasil veio de empresas de capital público como a Wisco, China Three Gorges, Sinopec e Stat Grid, responsáveis pela maioria dos US$ 87 bilhões previstos ou liquidados no período. Os setores de energia e mineração concentram mais de 85% dos investimentos confirmados, com quase US$ 43 bilhões alocados em projetos de geração e transmissão de energia elétrica, extração mineral e de petróleo e gás.
Renata também detecta o interesse chinês em vender maquinário, especialmente para o agronegócio, e compra de participações nas empreiteiras, que enfrentam dificuldades financeiras devido ao envolvimento nos escândalos de corrupção averiguados pela Operação Lava Jato. “Um efeito indireto da Lava Jato foi esse: abrir espaço para os chineses que estão aí com dinheiro e foco muito claro no Brasil nesse setor. Eles vieram para cá com força total nos últimos dois anos.”
A diretora da Barral M Jorge afirma que, na área de energia, a China já é uma das três maiores forças no país, refletindo o planejamento de longo prazo estabelecido pelo governo chinês de transformar a China na maior potência mundial até 2049. Segundo ela, a estratégia é muito consistente em relação aos setores em que vão investir no mundo inteiro e nas regiões onde têm um foco específico. Assim, a primeira leva de investimentos chineses para o Brasil e outros países foi nos setores de energia, mineração e depois construção civil, tecnologia e serviços, que formariam a terceira onda.
“São regiões que podem supri-los, onde eles não podem suprir a demanda doméstica, e a partir daí eles vão indo para outros setores. O foco dos chineses aqui também tem um fator político que ajuda: a simpatia do nosso atual presidente pelos chineses. Ele tem uma proximidade que a antecessora não tinha.”
Renata Amaral observa que essa estratégia chinesa também reflete a mudança de foco econômico de Pequim. Após anos de pesados investimentos em infraestrutura local, o governo passou a focar no fortalecimento do mercado interno e no aumento dos investimentos externos. “Os chineses têm um estratégia clara, têm muito poder hoje, são os maiores credores da dívida americana”, finaliza.