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A China manteve a liderança e avançou mais um pouco neste ano na fatia de fusões e aquisições por estrangeiros no país. Com compras de US$ 11,92 bilhões no ano passado, os chineses abocanharam em 2016 32,57% do total desses investimentos no Brasil. Em 2017 o valor em aquisições foi menor, de US$ 10,68 bilhões. Mesmo assim o país avançou para 35,06%. As compras pela China caíram em ritmo menor que o total. As fusões e aquisições com capital externo em 2016 somaram US$ 36,59 bilhões no ano passado. Neste ano foram US$ 30,47 bilhões. O levantamento é da Dealogic, consultoria baseada em Londres. Os dados para 2017 estão atualizados até o dia 11.

Os investimos da China vêm seguidos pelo Canadá e pelos Estados Unidos, mas em volume bem menor. Com investimentos de US$5,59 bilhões, a participação dos canadenses chegou a 18,34%. As aquisições dos americanos somaram US$ 12,56 bilhões, com fatia de 12,56% (ver quadro abaixo).

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destaca que os investimentos chineses, apesar da pequena queda em valor, aumentaram em quantidade de operações.

No ano passado, foram sete negócios, enquanto em 2017 as fusões e aquisições chegaram a 16. «Isso mostra que a China continua a aproveitar sua alta liquidez para marcar posição não somente em setores que lhe garantem fornecimento de insumos, como energia ou mineração. Eles apostam também na pulverização e diversificação de interesses num momento em que há ainda ativos em bom preço mesmo com a recuperação da economia.»

«Os chineses estão aproveitando as oportunidades para fincar pé em mercados que antes não conheciam. Estão assumindo posições em ativos estratégicos, numa corrida para absorção de tecnologia e de melhora de seu parque industrial que não é brincadeira», diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). «Algum tempo atrás eles faziam isso atraindo investimentos estrangeiros diretos para  China. Agora estão fazendo isso olhando para fora».

Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, diz que os investimentos chineses são mais agressivos e se retraem menos em ambientes que podem ser considerados de maior risco. «Grande parte dos investimentos dos Estados Unidos e da Europa são realizados entre essas duas regiões. De forma semelhante, a tendência é que os investimentos de países asiáticos como Japão e Cingapura tenham também como destino mais expressivo os países desenvolvidos. Já outros asiáticos, como Coreia, China e Tailândia, tendem a aplicar mais em países em desenvolvimento porque têm menor aversão a riscos.» Além disso, diz Barral, a visão estratégica dos chineses vai longe. «Eles têm aplicado em infraestrutura, que demanda grandes recursos, mas que dá retorno no médio e longo prazos.»

 

Isso, avalia o ex-secretário de comércio exterior, explica por que os investimentos chineses recuaram menos que os de outro países. Enquanto as aquisições da China no Brasil caíram 10%, o total de compras recuou 17%. Os investimentos americanos tiveram redução bem maior, de 40%. As compras de investidores dos Estados Unidos, porém, são menos concentradas. Em 2016 foram 67 operações de fusão e aquisição no Brasil. Neste ano, 41 operações.

 

Como o Brasil passa por um período maior de instabilidade política, há um recuo natural de certos investidores, mas nem tanto desse grupo de países asiáticos que aceitam maior nível de risco, avalia Barral. Mesmo assim, diz ele, as fusões e aquisições devem ficar próximas aos US$30 bilhões em 2018. «Apesar da perspectiva de crescimento de 3% ser importante, ainda estaremos com preços baixos de ativos, porque a economia caiu muito e nosso nível de comparação está baixo.» E a China, diz, deve continuar liderando esse movimento.

 

De outro lado, destaca Barral, há para 2018 grandes perspectivas na área de concessões e privatizações não somente no âmbito federal como nas demais esferas de governo. Mesmo os Estados e municípios, diz ele, querem emplacar programas de venda de ativos. «O que não se sabe é se esses projetos serão efetivados porque teremos um ano eleitoral. Há uma grande preocupação em relação a isso. Mesmo entre companhias que já investiram e operam no Brasil, há várias delas que estão deixando os planos de investimento para 2019.»

 

Cagnin, do Iedi, avalia que, apesar da queda no total de negócios neste ano, o valor em fusões e aquisições está em nível relativamente alto. Isso, diz ele, mostra que o Brasil tem capacidade de atração de investimento.

O economista pondera, porém, que boa parte das empresas que colocou ativos à venda desde 2015 tomou a iniciativa para fazer frente ao endividamento, num momento em que os juros ainda subiam e a valorização do câmbio passou a pressionar mais essa dívida, apesar de ter impacto positivo no longo prazo. Apesar da retomada, diz ele, esse processo de desalavancagem continua, o que deve manter um bom montante de ativos atraentes para o ano que vem. «A situação de muitas empresas continua complicada, apesar de já estarem disponíveis instrumentos de financiamento.»

Welber Barral tem análise semelhante. «Ainda há muita capacidade ociosa. E grandes empresas da área de infraestrutura, por exemplo, não terão meios de financiamento suficiente que evite a renda de ativos.»

 

«O problema é o efeito que essa venda de ativos pode ter na produção e nas competências das empresas, na sustentabilidade delas no longo prazo e na sua capacidade de inovar e criar a complexidade de valor», diz Cagnin. Porque a alienação de ativos não vem sendo feita de forma estratégica, como forma de crescimento, de absorção de tecnologia ou de alcance de novos mercados. «Isso vem sendo feito por razoes duramente financeiras. Ou seja, ativos importantes estão sendo queimados em nome da equalização financeira.»

Pelos números do Banco Central (BC), o fluxo de investimentos diretos no país somou US$ 51,3 bilhões no acumulado até novembro, com alta de 15% em relação a igual período do ano passado. Na classificação por países segundo o valor de participação de capital, estão à frente os Estados Unidos, seguidos de Ilhas Virgens Britânicas e Países Baixos. Diferentemente do levantamento da Dealogic, que classifica apenas fusões e aquisições por países segundo o país de origem da empresa compradora, os dados do BC levam em conta o investidor imediato. Ou seja, o país de domicílio da empresa não residente que investiu diretamente na subsidiária ou filial no Brasil.

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