Uma página foi virada para o presidente Michel Temer após ter barrado a denúncia contra ele na Câmara dos Deputados. Em pronunciamento, aliás, o presidente armou que a vitória foi «eloquente». Mas, mais do que a vitória de Temer, o grande destaque cou para o placar, que será analisado com lupa pelo mercado na sessão desta quinta-feira. 263 deputados votaram a favor do parecer do relator Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) que recomendava a rejeição da denúncia, enquanto 227 votaram contra, 20 não compareceram à votação e 2 se abstiveram.
Vale destacar que, na última quarta-feira, o mercado teve forte reação positiva com a perspectiva de vitória de Temer, com o Ibovespa subindo cerca de 1% e o dólar fechando em queda. No nal da tarde, aliás, a consultoria) de risco político Eurasia Group fez uma previsão de que os votos a favor de Temer chegariam a 300, o que faria o governo ganhar força, de modo a retomar a reforma da Previdência. Economistas e analistas de mercado apontavam que uma vitória de Temer por um placar acima de 270 votos mostraria a maior força do governo.
Assim, apesar da vitória ao impedir o andamento das investigações contra o presidente Michel Temer, o resultado da votação do parecer da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) contrário à autorização para a investigação cou levemente abaixo das projeções feitas pelos principais aliados do governo. Nos últimos dias e até o início da votação, os governistas acreditavam que teriam mais de 270 votos com facilidade, o que pode gerar dúvidas sobre a força do governo para aprovar as reformas.
Contudo, em relatório desta quinta-feira, a Eurasia destacou que a vitória do governo foi robusta e acima da previsão inicial feita pela consultoria, de 250 a 270 votos, se contadas as abstenções e faltas, levando a um total de 284 votos. Assim, os consultores elevaram a chance de Temer terminar o seu mandato de 60% para 70% e apontaram que, embora seja provável que uma outra denúncia da Procuradoria Geral da República seja enviada ao Congresso, há mais chances dela também ser arquivada. A Eurasia ainda reforçou a visão de que a grande margem de votos permite que o governo retome as negociações para uma visão mais branda da reforma da Previdência.
Por sinal, é com isso que o governo trabalha. Ao Estadão, o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha armou que a próxima batalha é a Previdência, enquanto aliados do presidente acham que a votação mostrou que a base pode ser reorganizada e dobrar a resistência que a reforma enfrenta. Contudo, ressalta o jornal, o otimismo do Planalto diverge da realidade no Congresso, com outros aliados avaliando que a reforma pode renascer se for restrita à questão da idade mínima.
Conforme ressalta a consultoria Barral M. Jorge,
Temer recupera parte de sua força política, perdida com a revelação da conversa com Joesley Batista, o que lhe permite retomar as negociações para a reforma e ainda aponta que as chances do presidente concluir o seu mandato são de 60%.
Neste sentido, a agenda econômica será o principal foco do governo. A articulação para a aprovação da reforma da previdência já começou, mas será difícil avançar com o texto original, e uma proposta mais branda deve ser negociada com os parlamentares.
«Vale destacar que a popularidade do governo continua extremamente baixa, o que fará com que parlamentares pensem duas vezes antes de votar uma agenda vista como extremamente impopular, principalmente à medida que as eleições de 2018 se aproximam», avalia a consultoria.
Além disso, após a votação, o Palácio do Planalto deverá reequilibrar as forças partidárias nos ministérios para agraciar os partidos do centrão que garantiram a rejeição da denúncia, como PP, PR, PSD e PTB e punir as traições. «Entre eles, destaque para o PSDB, até então principal parceiro na base aliada e detentor de quatro ministérios, que instruiu seus deputados a votarem a favor da denúncia, obtendo 21 votos a favor, 22 contra e 4 ausências. Há grandes riscos do PSDB perder o Ministério das Cidades», aponta a Barral M. Jorge.
Há quem também veja com ceticismo a retomada das reformas. Conforme destacou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, em entrevista para a Bloomberg, independentemente do número de votos favoráveis que o presidente Michel Temer conseguisse na votação, seria improvável que a reforma da Previdência acontecesse diante da proximidade das eleições de 2018. Ele ainda ressaltou que as aprovações de outras reformas microeconômicas, como a da TLP (Taxa de Longo Prazo), não são diretamente ligadas ao apoio demonstrado pelos parlamentares durante a sessão desta quarta.
Assim, o mercado cará de olho nas demandas seguintes da área econômica, como a mudança da meta scal e nova lei das falências. «Difícil de imaginar que um projeto que é tão contrário à população como a reforma da Previdência vai acontecer em ano eleitoral. Por outro lado, a agenda micro, que é extremamente importante, ainda está andando».
O resultado da votação mostrou que o governo ainda tem fôlego. Porém, muitas dúvidas ainda prosseguem, principalmente sobre se ele conseguirá andar com as reformas.