Forever 21 chega ao Brasil com roupas, de fato, baratas
Primeira loja da marca de varejo americana é inaugurada neste sábado em São Paulo; seis outras estão previstas para este ano
A inauguração oficial da loja americana Forever 21 nem havia começado, mas as filas dos provadores e dos caixas já impressionavam pelo tamanho e pela demora. As consumidoras, contudo, não pareciam se importar — exibiam sorrisos enquanto se espremiam na loja tentando não derrubar suas taças de espumante. A primeira unidade começou a funcionar de maneira discreta, em soft opening, na quinta-feira (e já atraiu multidões). A abertura ao público é neste sábado, no Shopping Morumbi, na zona Sul de São Paulo. O tamanho da primeira loja do país (1 170 m²) não chega perto da gigante de cinco andares em Times Square, no coração de Nova York, mas os preços de suas roupas e acessórios são, surpreendentemente, condizentes com os que são cobrados no exterior. Reportagem do site de VEJA encontrou blusas a 8,90 reais, calças jeans a 34,90, vestidos a 44,90 reais e saias a 28,90 reais — preços que colocam a marca em concorrência direta com varejistas mais baratas que a Zara e a Topshop, como a C&A.
A lista de “pechinchas” é grande, levando em consideração que as marcas estrangeiras costumam vender produtos no Brasil pelo dobro ou até o triplo de seu preço no exterior. A altíssima carga tributária brasileira é a culpada pelos preços elevados. Além do Imposto de Importação de 35%, o empresário ainda tem de pagar PIS/Cofins, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e ICMS. Segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio do Ministério do Desenvolvimento e sócio da consultoria Barral MJorge, em alguns produtos de vestuário, a soma dos impostos pode chegar a 70% a 80% do preço declarado pela empresa no ato da importação. Ou seja, para trazer ao país um vestido que custa 12,80 dólares nos EUA, 30 reais aproximadamente, a marca teria de pagar entre 21 a 24 reais a mais só de impostos, considerando o valor que ela declara junto à Receita Federal seja o mesmo do varejo. Assim, esse mesmo vestido chegaria ao Brasil custando 51 reais no mínimo.
Diante de tantos entraves, como, então, a Forever 21 conseguiu a façanha que as outras estrangeiras, como a Gap, não deram conta? O fundador da companhia, Do Won Chang, afirma que a empresa é avessa a gastos astronômicos e economiza em tudo. Seus executivos, por exemplo, viajam em regime espartano — nunca em primeira classe. Além disso, a companhia não tem o costume de contratar supercelebridades que cobram cachês milionários em uma campanha, já que o orçamento para a publicidade da marca é pequeno.
A gerente global de relações públicas e mídias sociais da marca, Kristen Strickler, chegou a afirmar, em coletiva, que a empresa não teria pisado em solo brasileiro se não pudesse oferecer preços baixos. Analistas garantem que a única forma de garantir tamanha competitividade é a redução da margem de lucro. Ainda aventam a possibilidade de a empresa ter oferecido preços mais baixos para ganhar mercado e, depois, subi-los à surdina. Chang garante que não. “O compromisso da marca é manter o preço sempre acessível, faz parte da identidade da Forever 21”, disse ao site de VEJA.
Diante da adesão de uma grande clientela feminina percebida já na pré-inauguração, é possível afirmar que, qualquer que seja o truque encontrado pela marca, as chances de dar certo são grandes. As consumidoras que visitaram a loja na quinta-feira davam a nítida impressão de conhecerem a fundo a marca — como se a Forever 21 sempre estivesse ali. “Essas marcas já existem para os brasileiros antes mesmo de aterrissarem no país”, afirmou Cecília Russo, diretora geral da consultoria de branding Troiano, referindo-se ao maior acesso que os consumidores têm, atualmente, às marcas importadas.
A empresa não divulga metas — nem de vendas, nem de expectativa de visitas no primeiro dia — mas é certo que se a movimentação (e os preços) acompanharem o ritmo da pré-inauguração, varejistas mais populares, como Marisa e Renner, devem começar a se preocupar. A previsão da Forever 21 é inaugurar, ainda em 2014, duas lojas no Rio de Janeiro, uma em Ribeirão Preto (SP), uma em Brasília e uma em Porto Alegre (RS).