Depois de muita barganha, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) decidiu disputar as eleições presidenciais de 2018 pelo nanico Partido Ecológico Nacional, o PEN. Com o segundo lugar nas pesquisas de opinião (com 16% das intenções de voto), o deputado que defendeu torturadores e a violência policial está em situação de empate técnico com a ex-senadora Marina Silva (Rede) e atrás somente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A transação só não foi concluída pela lei de fidelidade partidária. Só será possível se desfiliar do PSC sem perda de mandato durante a janela partidária, prevista para março — no Congresso, discute-se a antecipação do período de trocas. A confirmação, contudo, foi dada pelas duas partes. O partido escolhido pelo presidenciável era um ilustre desconhecido de muita gente. Fundado em 2012, tem apenas três deputados na Câmara dos Deputados, 13 prefeitos e 522 vereadores. Parece pouco para alguém com pretensões de chegar ao Palácio do Planalto, mas na atual situação de desgaste da classe política, a estratégia se explica.
Bolsonaro falava abertamente a interlocutores que pretendia se filiar a um partido sobre o qual pudesse “ter controle”. O PSC está longe de ser um gigante da República, mas tem um senador e 10 deputados, o triplo do PEN. Nenhum dos grandes partidos concederia este posto a um deputado que teve quatro votos na última eleição para presidente da Câmara. Por outro lado, partidos pequenos veem na sua figura uma chance de puxar votos e criar alianças para fazer crescer a bancada. Com esse ideal em mente, o próprio presidente do PEN, Adilson Barroso (SP), disponibilizou sua cadeira ao deputado para que ele fechasse com o PEN. Segundo Barroso, Bolsonaro recusou a Presidência, dizendo confiar no representante.
“Depois do anúncio do Bolsonaro, dezenas de lideranças nos ligaram interessadas em entrar para o partido, mas temos uma equipe avaliando se vale a pena. O PEN, com Bolsonaro como presidente da República, elege de 50 a 70 deputados, como o PT ou PMDB”, diz Barroso em entrevista a EXAME. “Fora que mais da metade dos partidos estará conosco no segundo turno”.
Caso os planos de Barroso se concretizem, o PEN passaria dos atuais 482.443,18 reais mensais em fundo partidário para uma cifra acima dos 6 milhões de reais por mês. Soma-se a isso, o aumento de tempo de TV nas eleições posteriores, outra grande moeda de troca no jogo de alianças políticas. O tempo de propaganda eleitoral das eleições municipais de 2016 foi determinado localmente. Em 2014, o PEN fez parte da coligação de Aécio Neves, que tinha cerca de cinco minutos disponíveis.
O PEN vai assinar em bloco com os filhos de Bolsonaro — Eduardo é deputado federal por São Paulo, Carlos é vereador no Rio e Flávio é deputado estadual no Rio. Todos serão candidatos em 2018, e é possível que Carlos concorra ao Senado pelo Rio. Ainda assim, o PEN terá poucos segundos de TV em 2018. O segredo é fechar a coligação com partidos maiores e simpáticos à agenda Bolsonaro. O senador Magno Malta (PR-ES) é um dos principais cotados e já sinalizou uma aliança com Bolsonaro. O PR tem 38 deputados federais – a quinta maior bancada – e traria minutos preciosos para a campanha. Assim se criaria condições para um partido nanico conseguir competir com os grandes.
E a ecologia?
Bolsonaro, como se sabe, ficou famoso por defender a ditadura e criticar homossexuais, mas em 2018 deve dar grande atenção ao problema da segurança pública, um dos temas que mais devem pesar na campanha. Aliar-se ao PEN, um partido conservador mas com agenda anódina, não chega a causar estranhamentos. Salvo na questão ambiental, que está no nome da sigla. Carlos Bolsonaro já disse que o aquecimento global é uma “pauta esquerdista”, e o pai segue a linha Donald Trump de renegar as ameaças climáticas.
“O PEN surgiu com intenção de bater na agenda sustentável, mas nunca mostrou nada nesse sentido. Apesar do nome, abrigou políticos mais conservadores. Por outro lado, o Bolsonaro ainda não tem uma agenda bem definida e um posicionamento contraditório. Ele se diz economicamente liberal, mas é contra as privatizações e a reforma da previdência”,
afirma Juliano Griebeler, analista político da consultoria Barral M Jorge.
“É difícil saber para onde vai essa aliança, exceto pelo fato de que tentarão o colocar como outsider, mesmo que não seja”.
Em conversas entre Barroso e Bolsonaro foi tratada uma “suavização” de imagem. O deputado refuta qualquer menção de seu nome como ícone da “extrema-direita”, apesar de ressaltar feitos de governos da ditadura militar e invocar o nome de Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército por promover tortura a presos políticos quando chefiou o DOI-Codi. Bolsonaro diz que “amadureceu”.
“Ele tomou uma cuspida na cara e não faz nada, nem sequer deu um murro [no deputado Jean Wyllys, do PSOL], um homem desse não é extremo”, diz Barroso, relembrando o arranca-rabo que rendeu uma advertência ao deputado do PSOL.
O PEN deve inclusive mudar de nome, retirando a impressão que cuida apenas de temas ligados à sustentabilidade. Em enquete divulgada nas páginas do Facebook de partido e candidato, o nome vencedor até o momento é Patriota. Será a roupagem que um deputado há 26 anos no Congresso vai utilizar para vender a imagem de novidade.