Enquanto isso, os produtos manufaturados encolheram sua participação para o menor nível também desde 1980 e hoje equivalem a 34,4% das vendas totais, em um movimento que o governo atribui à lenta recuperação econômica nos principais mercados. ‘O quadro geral da economia mundial neste ano ainda é muito desfavorável’, reconheceu o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, ao anunciar ontem os números da balança comercial de junho. Ele ressaltou uma série de aspectos positivos: foi o mês com maior superávit e maior média diária de exportações em todo o ano até agora.
Em junho, o saldo positivo chegou a US$ 2,365 bilhões. Esse resultado, porém, foi insuficiente para reverter o déficit acumulado no primeiro semestre: US$ 2,490 bilhões. De qualquer forma, garantiu evolução sobre o resultado verificado em igual período do ano passado, quando a entrada de importados havia superado as exportações em US$ 3,074 bilhões. De posse dos números, Borges manteve a postura de evitar projeções exatas, mas continuou apostando na ‘perspectiva’ de fechar o ano no azul. Timidamente, mencionou até o objetivo de melhorar o desempenho de 2013, quando houve superávit de US$ 2,56 bilhões. ‘Há um nível de incertezas sobre a economia mundial que torna impossível fazer uma previsão para a balança.’
A conta-petróleo, que mede a diferença entre exportações e importações de óleo bruto e derivados, ajudou no resultado do primeiro semestre. O déficit nessa conta retrocedeu de US$ 11,9 bilhões para US$ 8,7 bilhões. A redução está em linha com a expectativa do governo, mas contrasta com um aumento de 43% nas importações de petróleo e combustíveis em junho, isoladamente.
Curiosamente, apesar de toda a desaceleração argentina e das preocupações da indústria brasileira, o Brasil manteve superávit no comércio com o vizinho – ele só caiu de US$ 523 milhões para US$ 384 milhões – porque as importações também encolheram.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, destacou a importância da retomada do crescimento das exportações aos Estados Unidos. Em nove dos últimos 11 meses, segundo ele, o mercado americano – tradicional destino de produtos industrializados – aumentou suas compras do Brasil. Houve avanço de 3,5% em junho, na comparação com igual mês do ano passado, e de 11,4% no acumulado do primeiro semestre.
Em sua análise sobre a balança de junho, Godinho minimizou a dependência dos produtos básicos, preferindo ressaltar o aumento das quantidades exportadas pelo setor primário. Quase todas as commodities relevantes tiveram redução de preços no primeiro semestre: minério de ferro (-13,5%), milho em grão (-28,8%), açúcar em bruto (-14,4%), soja em grão (-4,2%) e celulose (-5,1%).
De janeiro a junho, houve queda de 10,5% nas exportações de manufaturados, mas o secretário lembrou o fato de que no mesmo período do ano passado haviam sido registrado embarques de plataformas de petróleo que não saíram do território brasileiro.