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O Presidente da Câmara e articulador da expansão do DEM, Rodrigo Maia. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Ao saírem os gatos, os ratos fazem a festa. Foi o que aconteceu na Prefeitura de São Paulo na sexta-feira 28. Com o prefeito João Doria (PSDB) em viagem à China e o vice Bruno Covas (PSDB) em licença para descanso, o prefeito em exercício e presidente da Câmara dos Deputados, Milton Leite (DEM), promoveu um almoço com seus correligionários no Edifício Matarazzo, sede do Executivo municipal.

O prefeito recebeu o secretário estadual de Habitação, Rodrigo Garcia (DEM-SP), deputados federais, estaduais e vereadores do partido. A presença ilustre foi do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado federal atrasou em 1 hora para o encontro, mas ninguém tocou nos pratos até sua chegada.

O cardápio foi peixe, ainda que o objetivo seja “engolir” tucanos. O cenário político atual dá uma oportunidade única para que o DEM se torne o expoente de projeção nacional da centro-direita, saindo da sombra do PSDB. Aos jornalistas, o anfitrião afirmou que o assunto do encontro foi o “crescimento do partido” e demandas da cidade que Maia deveria levar à Brasília. Disse o presidente da Câmara que há preocupação com o preço do diesel, que pode impactar na tarifa de ônibus municipais. Mas o principal tema era mesmo o crescimento do partido.

O DEM aproveita a posição de líder no Congresso para angariar poder. O presidente da Câmara, durante o recesso, capitaneou uma movimentação de parlamentares do PSB, insatisfeitos com a determinação de deixar a base aliada de Michel Temer, para seu partido, inchando a bancada na Câmara. Caso as conversas se transformem em migrações, o DEM pode chegar a 50 deputados federais, tornando-se o terceiro maior partido na Câmara. Tão importante quanto: é o número de parlamentares que hoje regula tempo de TV na campanha de 2018, valorizando o passe da legenda para possíveis alianças e apoios.

Os democratas hoje admitem publicamente que querem ter um candidato à Presidência da República e a governador nos maiores estados, como São Paulo. Em São Paulo, o secretário Rodrigo Garcia, do governo de Geraldo Alckmin, seria o nome. Ele rivalizaria com quem seu chefe tentará promover. Na Bahia, fala-se no prefeito de Salvador, ACM Neto. O próprio Rodrigo Maia, que nas eleições para prefeito do Rio em 2012 fez míseros 3% do votos, deve tentar voos maiores, a definir se será Senado ou governo do estado. Falta, claro, combinar com os eleitores.

Segundo o presidente da Câmara, o espaço será menor para concessões, pois a relação com o PSDB nas duas últimas eleições foi “de quase imposição” em relação ao DEM. “Será que o PSDB está disposto a apoiar o melhor candidato em São Paulo, que é o deputado federal Rodrigo Garcia, do DEM?”, disse Maia em entrevista ao site Poder360 nesta semana.

EXAME apurou que a posição de um manda e outro obedece mudou e, dentro do PSDB, será feito um monitoramento constante das ações dos democratas.

“Se crescer como projeta, o DEM se torna aliado-chave para as próximas eleições”

diz Wagner Parente, diretor da consultoria política Barral M Jorge.

“Socialmente, o partido ainda tenta se aproximar da classe média e trabalha com um novo programa partidário que dará atenção especial para problemas como segurança pública e empreendedorismo”.

O PSDB no muro

Enquanto tudo isso acontece, o PSDB está há 73 dias para decidir se sai ou não do governo e quais serão os próximos passos. O DEM, mirando 2018, não ameaçou em momento nenhum deixar a base do governo, e assim como o PSDB, vai investir na aprovação das reformas. Com o governo acuado, avaliam os democratas, sobra espaço para Rodrigo Maia se capitalizar com as mudanças aprovadas no governo de Michel Temer (PMDB).

O presidente, vale lembrar tem 5% de bom e ótimo no governo e 70% de reprovação, segundo a pesquisa CNI-Ibope divulgada esta semana. Mas o PMDB tem preciosos minutos de televisão para a campanha, 1.050 prefeituras, a maior bancada da Câmara, com 64 deputados federais, 22 senadores e sete governadores. Com todos os líderes alvejados pela Operação Lava-Jato, é improvável que um peemedebista tenha capital para lançar-se candidato. É de se esperar, então, que, mais uma vez, o PMDB será o braço direito do próximo governante.

De Arena a DEM

Em um último passo para capitalizar o partido na disputa, há até a mudança de nome na mesa, segundo informação da colunista Dora Kramer, da revista VEJA. Seria a quinta troca na história: Arena, PFL, PDS e DEM. Os caciques do DEM, claro, percebem no país a necessidade de mudança na política e cansaço com partidos tradicionais.

“Apesar de ser um partido tradicional, há anos não está na linha de frente como PSDB, PT e PMDB. Talvez não tenha a mesma rejeição”, diz Lucas de Aragão, diretor da consultoria de risco político Arko Advice.

No almoço em São Paulo, Maia falou sobre a autocrítica partidária. “O Brasil vive uma crise tão grande que faltam 100 anos para chegar a 2018. Os partido precisam olhar o que projetam para o futuro e reorganizar estruturas. O brasileiro cansou do discurso fácil e está vendo, até pela Operação Lava-Jato, que não precisamos de tanto Estado, mas de um governo moderno, com gestão eficiente e que exista nas áreas fundamentais”.

Perguntado por EXAME se a presença na base aliada de Temer, em meio às denúncias de corrupção e liberação de emendas para salvação no Congresso não seria a representação da velha política, o presidente da Câmara desconversou. “Tem que perguntar para o Planalto sobre isso, não para mim”.

Oficialmente, o PSDB prefere manter a amizade. O secretário-geral da sigla, deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), diz que essa é uma conjuntura favorável para que o DEM cresça, aproveitando as dissidências no PSB. “O DEM é um aliado histórico e imagina que pode aproveitar a oportunidade, é natural que tente. Não há ocupação de espaço, porque gostaríamos de tê-los como aliados”, afirma.

No histórico de alianças desde 1985, quando surgiu o PFL, DEM e PSDB apoiaram em segundo turno a eleição de Fernando Collor e, posteriormente, o governo Itamar Franco. Firmou-se de vez a parceria com a dupla Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel, que ocuparam os cargos de presidente e vice de 1995 a 2002. Nas eleições de 2002, ambos se juntaram ao PMDB para tentar derrotar Luiz Inácio Lula da Silva, sem sucesso. Nos estados, mantiveram aliança sempre que um dos dois não tinha candidato a governador.

Ao longo do tempo, porém, o DEM foi perdendo vigor. Teve 105 representantes na Câmara, em 1999, e hoje tem 29. “Em 2018, quando a eleição tomar corpo, as negociações devem minar a união da base e o governo terá muita dificuldade de aprovar medidas. Vai ser cada um por si”, diz Lucas de Aragão, da Arko. Essa será a primeira vez que o partido briga de “igual” pelos eleitores da centro-direita, em uma Guerra Fria pelos votos de um mesmo eleitorado. Ainda que Maia acredite que as eleições estão a 100 anos de distância, cada dia conta nessa corrida.

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