O presidente da República, Michel Temer, resgata, hoje, missões diplomáticas e comerciais com o exterior. Uma clara etapa na tentativa de fortalecimento da imagem do governo federal. Após a vitória no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o peemedebista embarca para a Rússia e a Noruega com a missão de mostrar que o país não parou e segue como porto seguro para investimentos. Temer deixa o Brasil no mesmo dia em que deve processar o empresário Joesley Batista, dono da JBS. Ontem, o presidente se reuniu com ministros para detalhar a estratégia que será posta em prática no Congresso com a chegada da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, prevista para os próximos dias.
A viagem é a primeira de Temer desde que esteve em Lisboa, em 10 de janeiro. De lá para cá, o presidente viveu altos e baixos, mas segue de pé e procurando mostrar trabalho, apesar do aprofundamento da crise. Se por um lado a delação de Joesley Batista, sócio da J&F — uma das duas maiores processadoras de carne do mundo —, provocou uma hecatombe na República, por outro, o presidente quer passar a imagem de que os de que os efeitos não minaram a força política do governo.
Ao lado de comitiva composta por auxiliares e parlamentares, Temer ressaltará alguns pontos: conseguiu manter o PSDB na base aliada; a inflação no acumulado em 12 meses se encontra no menor patamar desde maio de 2007 — e que fechará abaixo do centro da meta estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN); a taxa básica de juros (Selic) ficará abaixo de dois dígitos, o que reduz o custo de investimento; a reforma trabalhista se encontra no Senado, com chances de ser aprovada; e a da Previdência pode ser votada na Câmara antes do recesso parlamentar, que se inicia em 18 de julho.
Com as medidas macroeconômicas sendo adotadas para recolocar o país nos trilhos, aliadas ao argumento de fortalecimento político pós-TSE, Temer pretende voltar a mostrar que, do ponto de vista diplomático, quer atuar. Ele sabe que, para provar ao mundo a capacidade do governo em permanecer no governo até 2018, precisa marcar presença nas agendas internacionais. A visita à Rússia, por exemplo, encorpa o ciclo de visitas feitas a países do Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Desde quando assumiu a Presidência, em 2016, ele visitou sete países: China; Estados Unidos; Argentina; Paraguai; Índia; Japão; e Portugal. Após a visita à Rússia, faltará uma viagem à África do Sul para completar o ciclo. E essa visita não deve estar longe, avalia o analista político Lucas Fernandes, do Barral M Jorge Consultores Associados.
“O governo está em vias de finalizar a reforma trabalhista na Câmara. Com a implementação de uma das reformas, que é uma das principais metas do governo, Temer pode começar a se preocupar mais com o cenário internacional, sobretudo em relação aos investimentos”, avalia.
A retórica do governo de tirar o país da crise passa pelas relações comerciais com o mundo, reforça Fernandes.
“Será um papel importante procurar novas parcerias e começar saindo desse caos. Até o momento, só havia aprovado (de mais relevante) a PEC do teto dos gastos. Com a aprovação da reforma trabalhista, Temer começará a ter outros horizontes a se preocupar com a percepção internacional do Brasil”, pondera.
A tempo da denúncia da PGR também é levado em conta. “Entendo que ele não quer viajar como um presidente denunciado”, avalia. “A viagem neste momento o coloca como um presidente em plena posse das funções administrativas que tem.”
O deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo na Câmara, que estará na comitiva com o chefe do Executivo Federal, mostra confiança de que o governo deixará uma boa impressão. “Por que as corporações milionárias estão em campanha violenta contra Michel? Porque, pela primeira vez, elas estão sendo enfrentadas e estão perdendo com o andamento das discussões das reformas.
Perondi admite que, com a viagem, ainda que em meio a uma crise política, Temer pretende passar o tom de que o país segue funcionando. “É uma crise fabricada por fabricantes de crise. A ida dele mostra que não há risco nenhum em sair do país. Vai procurar investidores para superar a tragédia do desemprego. Ele está em paz e tranquilo”, destaca.
Na chegada à Rússia, Temer participa de reunião com investidores e falará sobre reformas que “modernizam a economia brasileira”. A Rússia, destaca a Presidência, é um país-chave para o desenho e a configuração da ordem internacional. “O diálogo estratégico é parte da defesa da diplomacia brasileira por uma ordem internacional multipolar. Os países mantêm diálogo privilegiado em foros como o G20 e o BRICS”, destaca Temer, em nota.
Comércio em jogo
Na Rússia, Michel Temer se reunirá com autoridades do Executivo e do Legislativo da Rússia, como o próprio presidente Vladimir Putin, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, com a presidente do Conselho da Federação, Valentina Matvienko, e com o presidente da Duma de Estado, Vyacheslav Volodin. O país é estratégico para o Brasil. Entre janeiro e maio, o volume de exportações de mercadorias brasileiras somou um total de R$ 1,08 bilhão, o que representa um aumento de 24,8% em relação a igual período do ano passado.
Na Noruega, os discursos não serão diferentes dos apresentados aos russos. Temer se reunirá com investidores para falar das “oportunidades abertas pelas reformas em curso”. O país, por sinal, já é oitavo maior investidor estrangeiro no Brasil, com forte presença no setor de energia. O chefe do Executivo Federal se encontrará com o Rei Harald V, com a primeira-ministra Erna Solberg e com o presidente do Parlamento norueguês, Olemic Thommessen.
A pauta econômica
Após mais de cinco meses, Temer volta a fazer uma viagem internacional:
» Roteiro
Temer ficará fora do país por quatro dias. Ele embarca hoje em um percurso de 12.282km até Moscou, capital da Rússia. Lá, permanecerá por quase dois dias. Na quarta-feira, ele se deslocará para Oslo, capital da Noruega, em um trajeto de 1.643km. Somente na sexta-feira, Temer volta a Brasília, em um itinerário de 9.941km.
» Simbologia
A viagem tem uma representatividade importante, afinal, desde que assumiu a Presidência, Temer foi apenas a sete países. Com a ida à Rússia, Temer visitará o quarto parceiro do BRICs. Faltará uma ida apenas à África do Sul. E o embarque para o exterior ocorre justamente em um momento delicado, de crise política.
» Recado
Embora Temer garanta que a viagem tem como tema central o estreitamento de relações de comerciais, a comitiva do presidente admite que, como pano de fundo, o governo quer mostrar que está trabalhando. Apesar da crise política, a intenção é mostrar que não há riscos e que os investidores estrangeiros podem aportar com segurança no país.
» Investimento
Os dois países são importantes aliados comerciais do Brasil. No caso da Rússia (17º lugar como mercado de destino das exportações), o governo planeja aprofundar mais os laços com o governo e investidores. Já em relação à Noruega (43º lugar como destino das exportações), a intenção é reaquecer os negócios, que decaíram após a crise econômica.