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Donald Trump é eleito o novo presidente dos Estados Unidos. Embora esta tenha sido a notícia mais veiculada em jornais nacionais e internacionais após a apuração dos resultados, pouco se sabe sobre os planos do mais novo chefe de Estado americano para o seu país e para o mundo.
Durante 17 meses, o empresário e apresentador de televisão deixou a mídia mundial extasiada com seu humor ácido, prepotência, aversão à “política tradicional” e sua proposta de governo, no mínimo, fora de série. Por mais da metade de sua campanha, Trump foi visto como uma piada, um aventureiro em terras desconhecidas sem chance alguma de chegar à Casa Branca. Ele, no entanto, chegou.
Trump é um exemplar da política norte-americana nunca antes visto na História dos EUA – muito provavelmente porque ele mesmo não se identifique como um político. Sua campanha foi inteiramente centrada na busca pela ‘América’ de outrora, que, segundo ele, gerava empregos, privilegiava o doméstico ao internacional e se impunha perante os demais países. Trump é a voz do cidadão americano descontente com a economia e que se sente excluído do escopo de atuação dos democratas.
Após o choque inicial da eleição do magnata, resta saber quais serão as principais medidas a serem adotadas a partir de 17 de janeiro – data em que tomará posse. A política externa dos EUA deve ser alterada de maneira substancial, principalmente com relação a países do Oriente Médio e demais localidades alvo de ingerências externas dos Estados Unidos.
No tocante ao Brasil, todavia, as relações devem permanecer estáveis. O presidente Michel Temer afirmou, em um discurso proferido na manhã de quarta-feira (9), que as relações institucionais entre Brasil e Estados Unidos manter-se-ão firmes. Temer não crê que Trump vá desconsiderar as relações político-econômicas entre EUA e Brasil; ao contrário, o presidente está confiante de que o novo chefe de Estado dos EUA respeitará as instituições democráticas do país e permanecerá como um parceiro estratégico do Brasil.
De modo geral, a América Latina (com exceção de alguns países) e o Brasil não figuram na agenda de prioridades dos EUA com a mesma intensidade que tiveram durante o governo Reagan. Diferentemente de países como México e Colômbia, que são sobremaneira dependentes da política externa dos EUA, o Brasil é autônomo em suas relações internacionais – característica que faz parte da política externa do País desde meados dos anos 1900.
O Brasil preconiza um universalismo seletivo em suas relações com outros Estados, adotando um ponto de vista estratégico e pragmático quanto à escolha de seus parceiros diplomáticos. Os Estados Unidos são apenas um dos diversos países que fazem parte do leque de parcerias preferenciais com o Brasil. Desde a eleição de Lula, houve uma grande mudança na relação entre ambos os países – principalmente porque Lula era contrário ao foco apenas nos EUA, defendendo a ampliação de parceiros na América Latina e países africanos, por exemplo.
Considerada a hipótese de estabilidade das relações, é possível, no entanto, que Trump altere o equilíbrio político-econômico com o Brasil em outros aspectos. Há a probabilidade, por exemplo, de que o novo presidente adote regras mais rígidas quanto à importação de produtos, principalmente agrícolas. Caso tal política seja realmente avalizada, o Brasil pode sair em desvantagem – tendo de recorrer, no pior dos casos, à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Alterações no fluxo de capitais globais também podem gerar efeitos negativos no País. Mas estes devem ser amenos, em virtude da reserva cambial existente.
Em suma: o Brasil não se encontra “ameaçado” pelas novas políticas externas a serem implementadas por Trump. Por ora, o novo presidente deve focar nas mudanças domésticas e análise de tratados com maior impacto aos EUA – NAFTA, TPP e TTIP, por exemplo.
 
*Artigo publicado no jornal Brasília Capital.

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