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Argentina eleva imposto de produtos importados

By 7 de outubro de 2014No Comments
Por Marli Olmos | Valor

BUENOS AIRES  –  O cerco do governo argentino aos produtos importados aperta a cada dia. Um decreto publicado nesta terça-feira elevou as alíquotas de imposto de 100 itens produzidos fora do Mercosul, que vão de luxuosos, como champanhe europeu, até brinquedos chineses, frutas do vizinho Chile e artigos pitorescos, como fogos de artifício. 

Mas o que preocupa os empresários agora é a reação dos transportadores à falta de dólares no país. Segundo o gerente da Câmara de Importadores, Miguel Ponce, duas grandes transportadoras marítimas já solicitaram aos clientes para que o pagamento do frete, hoje feito na Argentina, em pesos, passe a ser depositado em dólares em contas no exterior. “Isso vai encarecer os custos de produção”, destaca Ponce. Segundo ele, 90% do que entra no país hoje é usado na produção local. 

O esforço do governo para conter a saída de dólares atinge até miudezas. É difícil calcular quantos dólares sobrarão com a elevação do Imposto de Importação em escovas de dente ou pedras para mosaico, alguns dos itens citados no decreto publicado hoje. 

As novas alíquotas, que vão de 20% a 35% foram praticamente triplicadas, segundo a câmara dos importadores. Com a medida, frutas que eram importadas do Chile sem imposto, como kiwi, agora passam a pagar 10% de tributo. 

As restrições à entrada de importados já se refletem na balança. De janeiro a agosto, a Argentina comprou no exterior o equivalente a US$ 50,1 bilhões, o que representa uma retração de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Mas, ao mesmo tempo, o país não consegue avançar nas exportações, que também recuaram 10% no período, num total de US$ 44,7 bilhões. Dessa forma, o saldo comercial do acumulado deste ano – US$ 5,4 bilhões – ficou até menor do que o dos oito meses de 2013 – US$ 5,9 bilhões.

Paralelo

Por outro lado, com a recente mudança no comando do Banco Central, o governo conseguiu conter a alta do dólar no mercado paralelo. A cotação da moeda americana no paralelo caiu dos 15,95 pesos da semana passada para 14,70 pesos nesta terça-feira. Ainda assim, o paralelo ficou 74% acima do câmbio oficial, estável em 8,45. 

Na tentativa de desestimular a corrida ao dólar, o novo presidente do BC, Alejandro Vanoli elevou o piso mínimo de remuneração para os que investirem em pesos. Vanoli substituiu Juan Carlos Fábrega, que apresentou renúncia depois do discurso em que a presidente Cristina Kirchner insinuou que a equipe do BC teria favorecido especuladores.

Em reunião com dirigentes de bancos, na segunda-feira à noite, Vanoli anunciou rigor no cumprimento das regras sobre compra e venda de moeda estrangeira e disse que não haverá desvalorização do peso e nem tampouco  mudanças nas regras que permitem pessoas físicas comprarem determinadas quantias de dólar em bancos.

Para analistas, no entanto, a calma no mercado cambial será por pouco tempo. “Ele [Vanoli] não disse até quando não haverá desvalorização”, destaca o economista José Luis Espert. Para ele, o governo não tem como “chegar até a eleição presidencial de 2015 sem desvalorizar o peso”.

Preservar o nível de reservas em moeda estrangeira é ponto crucial para o país que continua em “default” (situação de calote), isolado dos mercados internacionais. As reservas da Argentina em moeda estrangeira somam US$ 27,7 bilhões. Com quase nada para comemorar, o país tem, portanto, poucos motivos para continuar a importar fogos de artifício.

 

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