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Investidor externo está mais confiante que o local

By 21 de março de 2014No Comments

Por Claudia Safatle

‘Está entrando dinheiro a rodo’, comentou um alto funcionário do governo, ontem, no fim do dia. Em março o ingresso líquido de capitais é de US$ 8,5 bilhões. No ano, até ontem, entraram US$ 17,7 bilhões em investimentos diretos e financeiros (ações, renda fixa, empréstimos).

Esse é um sinal de que o investidor estrangeiro, ao contrário do nacional, está mais confiante no Brasil. O governo Dilma, portanto, estaria ganhando credibilidade, segundo a avaliação de qualificadas fontes oficiais.

A atração de capitais para o país poderia ser avaliada, também, como um mero reflexo do aumento da taxa de juros. Como disse um investidor a esta coluna: ‘Com juros a 8% ao ano eu não aceito desaforo. Mas a 13% eu aceito’.

‘A inflação está onde sempre esteve. Não deteriorou’

Economistas do governo contestam essa tese – ‘isso é conversa fiada’ – como única explicação para uma mudança do humor externo em relação ao Brasil. ‘Se fosse só uma questão de juros, estaria entrando dinheiro há dois ou três meses atrás. E não estava’, argumentou uma fonte.

As razões para um certo otimismo da parte dos investidores estrangeiros são debitadas, dentre outras, ao compromisso fiscal do governo, anunciado em fevereiro – embora os dados dos dois primeiros meses do ano não sejam bons; à oferta de hedge cambial pelo Banco Central que, se for preciso será esticada para além do dia 30 de junho e à percepção dos mercados de que o ciclo de aperto monetário está mais próximo do fim. Somam-se a isso o fato do país continuar em uma situação de pleno emprego e da inflação ‘estar onde sempre esteve’, ou seja, não houve uma deterioração nem descontrole do quadro inflacionário no governo Dilma Rousseff, sustentam essas fontes.

Inflação, aliás, é um aspecto curioso. Uma passada de olhos sobre o desempenho do IPCA de janeiro de 1995 a fevereiro de 2014, resulta em constatações interessantes. A taxa média mensal de variação do IPCA nesses 230 meses é de 0,58% e a acumulada, de 280,03%.

Foi durante a presidência de Gustavo Franco no Banco Central, por 19 meses, que a média da inflação mensal foi a menor de todos esses anos: 0,28%. Foi também nesse período que o país, mais uma vez, passou por uma crise cambial e quebrou.

A fase de inflação mais alta, de 1,94%, ocorreu durante o mandato de Pérsio Arida no BC (de janeiro a junho de 1995). Na sequência veio Gustavo Loyola, com taxa média de 0,85% nos 26 meses em que comandou o BC, sendo substituído por Franco.

Nos 45 meses em que Armínio Fraga esteve à frente do BC, de março de 1999 a dezembro de 2002, a inflação foi de 0,69%, patamar que baixou para 0,52% no primeiro mandado de Lula, com Henrique Meirelles no comando do BC. No segundo mandato de Lula o IPCA caiu para 0,42%, perfazendo uma taxa média mensal de 0,47% nos 48 meses da gestão Meirelles.

Alexandre Tombini assumiu a presidência do BC em janeiro de 2011 e até fevereiro passado colheu inflação média de 0,50% – taxa ligeiramente inferior à do primeiro mandato de Lula. É fato que este governo não avançou, ao contrário, piorou o resultado em relação ao segundo mandato de Lula, mas ficou um pouquinho melhor do que a inflação média de todo o regime de metas, de 0,53%.

O levantamento, feito por técnicos oficiais para atestar que ‘a inflação está mais ou menos onde sempre esteve’, não faz juízo de valor. Cada período teve suas peculiaridades e dificuldades, crises externas e internas, valorização ou depreciação cambial, choques de oferta.

Nesse momento, há um choque de preços de alimentos e a inflação do setor pode ser a mais alta dos últimos dez anos, algo próximo a 2,4% como indicam as coletas de preços. Como alimentos respondem por 20% do IPCA, essa taxa representaria 0,48 ponto percentual na inflação do mês, que pode superar 0,80%.

A janela desinflacionária que o BC contava até abril se fechou e os próximos meses tendem a ser de índices mais elevados do que os do ano passado.

A inflação deve bater no teto da meta, provavelmente, entre junho e julho. No mercado há quem esteja convencido de que o IPCA vai para o teto de 6,5% e não volta a cair este ano. No BC, a expectativa é de que caia e encerre o ano ao redor de 6%.

‘Só pegamos vento contra’, argumentou uma alta fonte oficial. ‘Mas a inflação está tão boa ou tão ruim como sempre esteve. Não houve descontrole’, concluiu.

Se o investidor estrangeiro está mais confiante no Brasil, é pertinente especular sobre as razões do setor privado doméstico continuar muito mal humorado. O risco cada dia maior de um racionamento de energia, o represamento dos preços da Petrobras e da própria energia, a desconfiança com o cumprimento da meta fiscal, a inflação, o baixo crescimento dos últimos anos que deve perdurar em 2015, seriam parte dos motivos.

Acredita-se, no governo, que dentre todos um se destaca: a proximidade das eleições presidenciais e a inquietação com a expectativa do ‘volta, Lula’.

A pesquisa Ibope divulgada ontem, porém, não aponta para esse cenário. Os três principais candidatos – Dilma, Aécio e Eduardo Campos – ficaram estacionados nos índices de intenção de voto que tinham há cinco meses atrás. Com 41%, Dilma ganharia no primeiro turno.

Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras

E-mail: [email protected]


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