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Por: Equipe de Gestão de Pessoas da BMJ Consultores Associados.

No dia 28 de junho, comemora-se mundialmente o Dia do Orgulho LGBTQIA+. É uma data que celebra várias lutas, conquistas e as vidas de várias pessoas deste grupo social que foram vitimadas pelo preconceito e pela discriminação. Entender o que representa essa data perpassa o reconhecimento do que é ser LGBTQIA+ e quais pessoas compõem esse grupo tão diverso. Para iniciar esse entendimento, é necessário compreender três conceitos básicos:

• Sexo: majoritariamente binário (feminino e masculino), mas com presença de pessoas intersexo (nascem com características sexuais, como genitais, padrões cromossômicos e glândulas que não se adequam à noção binária);

• Gênero: representação social construída por meio de significados psicológicos, culturais e sociais – por vezes, imposta. Muitas vezes está ligado ao padrão do que deve vir a ser um “ser masculino ou feminino”, no caso “um homem” ou “uma mulher”;
– Cisgênero: pessoas que se identificam com o sexo de nascimento e com o gênero socialmente construído;
– Transgeneridade (ou transexualidade): versa sobre gênero e não sobre sexualidade, sendo que a determinação da vivência trans perpassa a identificação social das pessoas. Ou seja, a mulher transgênero é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social como mulher e, de forma semelhante é, o homem transgênero é aquele que reivindica o reconhecimento social como homem (West & Zimmerman, 1987, p. 125);
– Travestis: pessoas que vivenciam papéis que podem ser identificados com o gênero feminino, independentemente das caraterísticas sexuais determinadas pelo aparato cromossômico; porém não se reconhecem como homens ou mulheres, mas como membros de um terceiro gênero – ou de um não gênero (Jesus, 2012a);
– Não-binárias: pessoas que não se identificam com nenhum dos gêneros ou possuem graus de identificação nos dois.

• Sexualidade: forma afetivo-sexual de relacionamento com as pessoas. Versa sobre construção de relações, desejo sexual, desejo afetivo e romântico;
– Heterossexual: inclinação afetivo-sexual e romântica para o gênero “oposto”;
– Homossexual: inclinação afetivo-sexual e romântica para o mesmo gênero;
– Bissexual: inclinação afetivo-sexual e romântica para ambos os gêneros – podendo apresentar-se em graus diferentes e em diferentes momentos da vida;
– Assexual: pessoas que apresentam nenhuma – ou quase nenhuma – inclinação sexual ou afetiva para nenhum gênero; também existem gradações e pode surgir em momentos diferentes da vida.

As pessoas que compõem o grupo LGBTQIA+ podem representar características destoantes da norma padrão tanto em questão de Sexo e Gênero (no caso das pessoas trans, travestis e não-binárias), quanto na questão de sexualidade. Cada uma das letras representa um dos grupos que compõem essa grande comunidade. Saiba mais:
L – Lésbicas
G – Gays
B – Bissexuais
T – Transgêneros, transexuais e travestis
Q – Queer
I – Intersexo
A – Assexuais
+ – Todas as outras formas que as pessoas possam vir a se diferenciar da hegemonia heterossexual e cisgênero.

Por que se comemora o Dia do Orgulho?

Na Nova Iorque de 1969, apesar do caráter progressista da região, as leis anti-LGBTQIA+ era frequentes e causavam danos individuais, grupais e patrimoniais. A demonstração de afeto não-heterossexual em público era vista como um ato perigoso para quem o praticava e inconcebível para o restante da população – principalmente aos olhos da lei. Para fugir dessas represálias, era comum a criação de locais dedicados a esse público, que – com o devido pagamento de propina à polícia – poderiam funcionar como espaços seguros para essa comunidade. Apesar disso, batidas policiais eram constantes e a violência também.

Um desses espaços ficou conhecido como o clube Stonewall Inn, gerido à época por “Fat Tony” Lauria – não apoiador da causa, mas uma pessoa que visava lucro. Como os demais, sofria com constantes batidas policiais, com o total desagrado de seus frequentadores. Em uma dessa batidas, talvez a mais violenta, alguns presentes começaram a se opor à prisão de uma frequentadora e, também, a jogar objetos em direção aos policiais. A partir disso, formou-se uma rebelião, na madrugada do dia 28 de junho, onde as pessoas começaram os protestos a favor da manutenção do clube e também dos direitos LGBTQIA+. Algumas pessoas foram presas, mas a rebelião continuou. Na noite do mesmo dia, cerca de 2000 pessoas se reuniram à frente do clube e começaram a entoar palavras de ordem como “Poder Gay”, “Queremos Liberdade Agora” e “Christopher Street pertence às rainhas”.

Desde então, esse dia ficou conhecido como um marco ocidental da luta dos direitos LGBTQIA+ e, mundialmente, como o Dia do Orgulho. Serve como uma constante lembrança dos que vieram, dos que estão e dos que ainda virão, além de nos relembrar que direitos básicos, como os direitos de ir e vir e de liberdade de expressão e de afeto, para alguns grupos, tiveram que ser conquistados e ainda precisam ser diariamente reafirmados.

Breve Histórico do Movimento LGBTQIA+ no Brasil

Diversos foram os movimentos individuais e coletivos em prol da população LGBTQIA+ no Brasil. Esta seção não tem o objetivo de ser exaustiva e reconhece que, mesmo antes da data aqui citada, existiram outras manifestações e atos, antes mesmo da sigla existir. Considera-se aqui também, vivências dissidentes às hetero e cisnormativas (Green et al, 2018):

“Aliás, pode-se afirmar, sem sombras de dúvidas, que a mera existência pública de corpos e de desejos contrários às normas-padrão de gênero e de sexualidade sempre foi um ato político da maior grandeza. Nesse sentido, seria injusto politicamente e equivocado, do ponto de vista histórico, desconsiderar as diversas iniciativas pregressas de lutas e de resistência da comunidade LGBT.”

Alguns marcos são importantes para entender como foi organizado o movimento e quais grupos ou ações de imprensa fizeram parte dele. Cita-se a Ditadura Militar (1964 a 1985) como um entrave para os direitos humanos e grupos sociais. Autores como Green et al (2018) apontam esse período como o responsável pelo atraso de quase uma década no avanço dos direitos da população LGBTQIA+ (no início do mesmo período estava acontecendo as rebeliões por Stonewall).

Apesar desse cenário, em 1970, com a flexibilização da censura, iniciou-se a primeira onda de mobilização política, com a circulação do jornal mensal “Lampião da Esquina”. Com edição no Rio de Janeiro, “o Lampião” pretendia forjar alianças com outras minorias marginalizadas (pessoas negras, feministas, indígenas e representantes de movimentos ecológicos). Foi importante por demonstrar aspectos políticos, existenciais e culturais da homossexualidade, servindo como uma outra fonte de informação que ajudava a desmistificar a figura “do homossexual” e aproximar a imagem de semelhança humana.

As discussões sobre a homossexualidade também eram frequentes na vida de pessoas LGBTQIA+ (classe média e universitária) em São Paulo e visavam a politização da homossexualidade. Em fevereiro de 1979, homens gays, membros de um desses grupos, conhecido como “Somos – Grupo de Afirmação Homossexual”, resolveram se aproximar das outras letras da sigla e começaram os debates para a construção de um movimento de abrangência nacional. Cita-se também a entrada das mulheres nesse movimento, com o Grupo de Ação Lésbico-Feminista (GALF) e o grupo Outra Coisa, que contribuíram para o debate e para a luta contra a estigmatização.

A história do movimento LGBTQIA+ também é marcada pela criação de um boletim advindo dos coletivos que formaram os grupos Lésbico-Feminista – LF (1979-1981) e Ação Lésbica-Feminista – GALF (1981-1989). A sua criação e manutenção é conhecida como a “Stonewall Brasileira”, já que era comercializado no Ferro’s Bar – bastante frequentado por mulheres lésbicas – o qual sofreu com repressões e com a expulsão das mulheres do bar. Em 19 de agosto de 1983, as frequentadoras do bar decidiram revoltar-se e tomá-lo, como forma de “apropriação” e luta pelos direitos lésbicos e homossexuais.

É importante também entender o papel do Grupo Gay da Bahia (GGB) para a história LGBTQIA+ brasileira e latino-americana. Não foi o primeiro, mas hoje é o mais antigo grupo com um funcionamento ininterrupto, sendo a primeira ONG registrada como Organização da Sociedade Civil (OSC). Foi o responsável por liderar a campanha vitoriosa para a despatologização da homossexualidade (conhecida à época como “homossexualismo”) em 1985. Também foi o responsável por diversos outros avanços, como a introdução de termos como homofobia e o uso de termos femininos para referência às mulheres trans e travestis. Auxiliou no combate ao preconceito e à prevenção da AIDS e do HIV junto à população LGBTQIA+. É reconhecido até hoje como um dos grandes grupos mobilizados pela luta por direitos.

Por fim, é importante também reconhecer o papel político, de lutas e visibilidade em massa das Paradas do Orgulho LGBTQIA+. No Brasil, o marco inicial ocorreu em 1995, no Rio de Janeiro, durante a 17ª Conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex (ILGA), culminando em uma pequena marcha em Copacabana. No ano seguinte, houve uma pequena manifestação em São Paulo, que reuniu aproximadamente 500 pessoas na praça Roosevelt. Porém, somente em 1997 ocorreu a primeira “Parada Gay” na Avenida Paulista, com o tema “Somos muitos, estamos em várias profissões”.

Compromisso Organizacional

Múltiplos são os desafios das pessoas LGBTQIA+ para se inserirem e se manterem no mercado formal de trabalho. Essa população é carente de ações – e de políticas públicas – que garantam a inclusão, o respeito e ambientes livres de discriminação. De acordo com o levantamento feito pela Center for Talent Innovation em 2019, 61% de funcionários LGBTQIA+, mais especificamente gays e lésbicas, decidem esconder sua sexualidade por medo de sofrerem algum tipo de represália por LGBTQIA+fobia. Também consta que cerca de 33% das empresas do Brasil não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia e 41% dos funcionários LGBTQIA+ afirmam terem sofrido algum tipo de discriminação em razão da sua orientação sexual ou identidade de gênero. No último relatório de 2020 da ANTRA, constatou-se que cerca de 90% de travestis se prostituem por não terem conseguido nenhum outro emprego.

O compromisso organizacional deve ser em prol da garantia de direitos e visando sempre o bem-estar e a plena existência de seus funcionários. A mudança deve começar na cultura, que deve ter como valor a Diversidade, a Equidade e a Inclusão (DE&I). A questão também deve ser trabalhada com as lideranças e com os tomadores de decisão, oportunizando espaços de diálogos e de treinamento e desenvolvimento sobre temáticas diversas. Passa-se então para a construção de uma política organizacional de DE&I, com foco em várias diversidades e diretrizes claras de treinamentos, protocolos sobre como e agir ou não agir e, também, orientações sobre possíveis punições caso a política seja descumprida. O compromisso não é apenas organizacional, mas também social e individual.

Referências

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/20788_arquivo.pdf

https://antrabrasil.files.wordpress.com/2022/01/dossieantra2022-web.pdf

http://65.108.49.104/bitstream/123456789/240/1/Artigo%20Roberth%20TCC%20Adm%20Cont%202021%20%283%29-compactado.pdf

28 de junho: Conheça a origem do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+

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